Como a ansiedade e o estresse impactam a fertilidade

De acordo com uma recente pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil lidera uma lista de 11 países com mais casos de depressão e ansiedade durante a pandemia. Segundo o estudo, o Brasil é o país que apresenta mais casos de ansiedade (63%) e depressão (59%); em segundo lugar ficou a Irlanda, com 61% das pessoas com ansiedade e 57% com depressão, e em terceiro aparecem os Estados Unidos, com 60% e 55%, respectivamente.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia, o Brasil já era o país mais ansioso do mundo e também apresentava a maior incidência de depressão da América Latina, impactando cerca de 12 milhões de pessoas.

Em meio ao cenário de incertezas por conta da covid-19, é inevitável a sensação de fragilidade e impotência. Para mulheres que estão tentando engravidar, a ansiedade do momento atual é um grande obstáculo para comemorar o teste positivo. Segundo a Dra. Fernanda Torras, ginecologista e obstetra, membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), da SMB (Sociedade Brasileira de Mastologia) e ABCGIN (Associação Brasileira de Cosmetoginecologia); a relação entre patologias somáticas e psíquicas vem sendo estudada há décadas e estão cada vez mais atreladas.

“Em relação à fertilidade, inúmeros são os fatores que podem alterá-la. No entanto, 5% a 15% dos diagnósticos de infertilidade são denominados ‘infertilidade sem causa aparente’ (ISCA), em que não encontramos uma causa orgânica associada. No universo da psicologia, por muito tempo, alguns casos de infertilidade sem causa aparente foram associados a conflitos inconscientes em relação à gestação e à maternidade, principalmente, relacionados à figura materna e ao medo de reproduzir um modelo tido como ruim. Considerando a interação corpo-psiquismo, supõe-se que a infertilidade tem causa combinada, onde o psíquico influencia no corpo biológico, assim como o sofrimento do corpo influencia na mente”, explica.

Diversos estudos relatam que o estresse e a ansiedade, como no momento atual, podem alterar certas funções fisiológicas relacionadas à fertilidade, formando um ciclo vicioso que se retroalimenta, pois a infertilidade e seus tratamentos podem causar graves danos psicológicos ao casal.

Segundo Fernanda Torras, o núcleo arqueado, localizado no hipotálamo, é o principal local de produção do hormônio GnRH, essencial no funcionamento do eixo hipotálamo-hipofise- ovário, que induz a ovulação e, assim, o ciclo menstrual. O núcleo arqueado recebe vários circuitos neuronais do sistema límbico, responsável pelas emoções, que podem modificar a intensidade e a frequência dos pulsos de GnRH.

“A alteração desses pulsos leva a inibição do eixo hormonal que estimula o ovário, explicando as várias formas de alterações menstruais observadas em mulheres submetidas a fortes impactos emocionais. Na dependência da intensidade e duração desses estímulos, as mulheres podem, inclusive, desenvolver amenorreia hipotalâmica funcional ou anovulação crônica hipotalâmica”.

Outros estudos observaram que estressores físicos ou emocionais atuam sobre o hipotálamo, alterando a secreção de fatores liberadores ou inibidores de hormônios hipofisários. Em estudo realizado em 2011, com mulheres que estavam começando a tentar engravidar, utilizou-se os biomarcadores cortisol e alfa-amilase salivar como medida de estresse dessas mulheres, que foram acompanhadas por um período de 12 meses.

“O resultado revelou que mulheres que apresentaram níveis de estresse mais elevados (evidenciados através do exame de alfa-amilase salivar) acabaram reduzindo sua fecundidade em 29%, comparado ao grupo de mulheres com menor nível de estresse, além de apresentarem 2 vezes mais riscos de infertilidade”, revela Fernanda.

Segundo a ginecologista, nos homens, foram encontrados prejuízos na fertilidade em função da ansiedade, uma vez que níveis mais altos de ansiedade e estresse podem mudar a função testicular por alteração na produção de testosterona e pelo menor volume seminal e contagem, concentração e motilidade dos espermatozoides. Outro efeito nocivo do estresse é a queda no desejo sexual (libido) e alterações na ereção, diminuindo o número de relações sexuais do casal.

Em relação à Fertilização in vitro (FIV), que é um dos principais tratamentos para a infertilidade, a literatura revela que a ansiedade, e também a depressão, não estão relacionadas a resultados negativos no tratamento de FIV. No entanto, observou-se que as falhas de tratamento podem ocasionar ansiedade e depressão.

Fernanda Torras conta que diversos pesquisadores da área utilizaram anteriormente o “Inventário de Ansiedade Traço-Estado IDATE” para avaliar como a ansiedade poderia influenciar o eixo hipotálamo-hipófise-ovário. As avaliações apontam que quanto maior o grau de ansiedade, avaliado por esse método subjetivo, menor a chance de gravidez em mulheres submetidas à inseminação artificial.

“O trabalho psicológico deve sempre ser orientado, buscando ajudar os pacientes a enfrentarem todo esse processo. Entretanto, a influência dos estados psicológicos sobre a função reprodutiva apresenta um perfil multifatorial, sendo difícil determinar relações lineares de causa e efeito. Além disso, as alterações hormonais ao estresse dependem do grau de ansiedade do indivíduo, sendo observadas respostas hormonais mais intensas quando há maior grau de ansiedade. Saber que há diversos tratamentos para infertilidade pode diminuir a ansiedade, melhorando as perspectivas em relação à concepção”, finaliza Fernanda Torras.

Informações à imprensa

FGR Assessoria de Comunicação

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