Segurança nuclear em tempos de conflito

by Amarildo Castro

Evelyn Rosa de Oliveira

As manchetes internacionais voltaram a destacar tensões entre os Estados Unidos e o Irã, reacendendo temores sobre o uso de tecnologia nuclear em contextos de guerra. Embora o termo “nuclear” costume provocar pânico, é importante separar o sensacionalismo da realidade científica e geopolítica.

Como professora na área da Radiologia, vejo crescer perguntas sobre o que pode acontecer caso um ataque atinja instalações nucleares, qual o papel de órgãos como a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), e até que ponto a radiação representa risco à saúde pública.

Segurança nuclear é o conjunto de medidas e políticas destinadas a proteger materiais nucleares, instalações e pessoas contra incidentes, acidentes ou ações intencionais, como sabotagem ou terrorismo. Ela está ligada não apenas ao uso militar da energia nuclear, mas também ao seu uso pacífico, como nas áreas da saúde, energia e pesquisa científica.

Quando falamos em segurança, falamos de vigilância constante, protocolos rígidos e cooperação internacional. Uma falha, mesmo que localizada, pode ter consequências catastróficas, como vimos em episódios anteriores como no acidente de Chernobyl em 1986.

A IAEA é um órgão vinculado à ONU responsável por promover o uso pacífico da energia nuclear e impedir sua utilização para fins bélicos. Ela atua em inspeções, treinamentos, auditorias e alertas. Em regiões de conflito, como no Oriente Médio, a presença da IAEA é importante para garantir que instalações nucleares não sejam convertidas em armas ou alvo de ataques.

Muitos temores e dúvidas surgem em tempos de conflito envolvendo potências nucleares. Vamos esclarecer algumas delas: Se uma usina for bombardeada, ela explode como uma bomba? A resposta é não. Uma usina nuclear tem sistemas de contenção e segurança. Ainda assim, ataques podem liberar material radioativo, como ocorreu em Chernobyl e Fukushima, com efeitos sérios à saúde e ao meio ambiente. Outro questionamento comum é se a radiação pode viajar por longas distâncias, e a resposta depende do tipo de radiação e da quantidade. Em casos graves, a radiação pode contaminar solo, ar, alimentos e águas por quilômetros, afetando gerações.

O maior risco em conflitos é a perda do controle. Um ataque direcionado a reatores ou centros de armazenamento de resíduos nucleares pode causar vazamentos massivos, contaminações ambientais e crises humanitárias. Não à toa, a IAEA considera tais instalações como “zonas que jamais devem ser militarizadas”. Além disso, há riscos indiretos: falta de energia elétrica para resfriamento de reatores, abandono de áreas contaminadas, desinformação (que pode levar ao pânico da população), e a perda de confiança pública nas instituições.

Educar a população, combater mitos e exigir transparência das autoridades são atitudes importantes. O medo não deve guiar as políticas públicas, e sim a ciência.

A tecnologia nuclear, como toda ferramenta poderosa, carrega uma dualidade: pode salvar vidas (como é o caso do uso médico das radiações) ou destruí-las. Como sociedade, é importante acompanhar o trabalho e defender o fortalecimento de órgãos como a IAEA. A paz nuclear é uma construção diária, feita com conhecimento, vigilância e compromisso com o futuro.

*Evelyn Rosa de Oliveira é tecnóloga em Radiologia, mestre em Engenharia Biomédica. Professora da Escola Superior de Saúde Única e Coordenadora do Curso de Tecnologia em Radiologia na UNINTER

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