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Criminosos usam inteligência artificial, engenharia social e plataformas falsas para aplicar golpes; especialista alerta que conhecimento financeiro é a melhor defesa O avanço da tecnologia e o crescimento do uso de meios digitais no Brasil abriram caminho não apenas para inovações no setor financeiro, mas também para um aumento preocupante nos golpes aplicados contra consumidores. Dados do Banco Central mostram que, apenas em 2024, foram registradas mais de 4 milhões de tentativas de fraude no sistema bancário nacional, alta de 28% em relação ao ano anterior. Os criminosos adotaram métodos cada vez mais sofisticados. Não se trata mais de mensagens com erros de português ou promessas genéricas de herança milionária vinda do exterior. Os golpes agora envolvem desde clonagem de aplicativos bancários e perfis falsos em redes sociais, até uso de inteligência artificial para imitar a voz de familiares em áudios de WhatsApp. “Os golpistas estão mais preparados do que nunca. Eles estudam o comportamento da vítima, cruzam dados vazados, criam narrativas convincentes e usam tecnologia de ponta. A única maneira de se proteger é estando informado e desconfiando sempre”, afirma o contador e consultor financeiro André Charone, autor do livro A Verdade Sobre o Dinheiro. Exemplos de golpes mais comuns e como evitá-los 1. Golpe do Pix com falsos pedidos urgentes Um dos golpes mais recorrentes hoje é o da falsa emergência por mensagem. O criminoso se passa por um amigo ou parente, muitas vezes com nome e foto idênticos e pede uma transferência urgente via Pix. “O bandido cria um perfil muito parecido com o da pessoa real e manda uma mensagem do tipo: ‘preciso pagar um boleto agora e meu app travou, me ajuda?’”, explica Charone.Como se proteger: confirme a identidade da pessoa por telefone ou videochamada antes de transferir qualquer valor. Nunca envie dinheiro com base apenas em mensagens de texto. 2. Golpe da falsa central de atendimento Neste golpe, a vítima recebe uma ligação supostamente do banco, informando sobre uma “atividade suspeita” em sua conta. Em seguida, é orientada a instalar um app ou a compartilhar senhas e códigos de segurança. “É um golpe clássico de engenharia social. A pessoa se assusta e segue as instruções sem checar. Em minutos, o criminoso invade a conta e faz saques ou empréstimos”, alerta Charone. Como se proteger: lembre-se de que nenhum banco liga pedindo senha, código ou acesso remoto ao seu celular. Desligue e ligue você mesmo para o número oficial da instituição. 3. Golpe da clonagem de voz com IA Um dos golpes mais recentes envolve o uso de inteligência artificial para clonar a voz de um familiar. O criminoso envia um áudio aparentemente legítimo, com pedidos de ajuda ou dinheiro. “Esse tipo de golpe é emocionalmente muito forte. Já vi casos em que os pais choraram ouvindo o áudio da suposta filha pedindo socorro. Só depois descobriram que era falso”, afirma o especialista. Como se proteger: combine uma palavra-chave de segurança com pessoas próximas. Em casos de emergência, insista em uma confirmação por vídeo. 4. Falsas oportunidades de investimento Sites e perfis em redes sociais anunciam investimentos com rentabilidade alta e risco baixo, muitas vezes com apoio de “testemunhos” falsos ou celebridades. “A promessa de retorno de 5% ou 10% ao mês, garantido, é um alerta vermelho. Isso não existe no mercado regular. Quando o investidor percebe o golpe, o dinheiro já desapareceu”, destaca Charone. Como se proteger: verifique se a empresa está registrada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Faça buscas no Reclame Aqui, Google e redes sociais. Desconfie sempre de promessas fora da realidade. 5. Golpe do boleto falso Outro golpe comum ocorre quando o criminoso altera o código de barras de boletos enviados por e-mail ou WhatsApp. A vítima acha que está pagando uma conta legítima, mas o valor vai para a conta do fraudador. Como se proteger: baixe boletos sempre no site oficial da empresa ou via aplicativo próprio. Verifique se o nome do beneficiário no comprovante é de fato a empresa que deveria receber. Golpes afetam todas as classes sociais Embora idosos e pessoas com pouca familiaridade digital sejam vítimas frequentes, os golpistas também miram profissionais qualificados, empreendedores e até servidores públicos. “Já atendi empresários que caíram em golpes porque estavam em uma situação de estresse ou de alta expectativa de lucro. O emocional sempre pesa”, aponta Charone.Segundo ele, a busca por retorno rápido, a confiança excessiva em indicações informais e o medo de perder uma “oportunidade única” são os ingredientes perfeitos para que o golpe funcione. A prevenção começa pela educação financeira Para Charone, o combate aos golpes não pode se resumir a campanhas pontuais ou alertas de bancos. É preciso educar a população desde cedo. “Quem entende como o sistema financeiro funciona sabe que não existe dinheiro fácil. A informação é uma vacina contra boa parte das fraudes”, afirma. Ele também defende mais rigor na punição aos golpistas e mais transparência nas plataformas de pagamento. “As fintechs, redes sociais e operadoras precisam colaborar mais. Hoje, o criminoso tem acesso fácil a dados e meios de movimentar dinheiro sem controle efetivo.” O que fazer se você for vítima Em caso de golpe, o mais importante é agir rápido:Registre um boletim de ocorrência;Comunique imediatamente o banco ou a instituição de pagamento;Salve prints, comprovantes e números envolvidos;Procure orientação jurídica;Notifique a ouvidoria da instituição ou o Banco Central, se necessário. Em números4,2 milhões de tentativas de golpes registradas em 2024R$ 1,2 bilhão em prejuízos estimados com fraudes73% das vítimas receberam o primeiro contato via WhatsApp ou redes sociais56% dos casos envolvem transferência via Pix37% das vítimas têm ensino superior completo Fontes: Banco Central, Febraban, Serasa, Datafolha Sobre o autor: André Charone é contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA). É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e dezenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional. André lançou recentemente o livro ‘A Verdade Sobre o Dinheiro: Lições de Finanças para o Seu Dia a Dia’, um guia prático e acessível para quem deseja alcançar a estabilidade financeira sem fórmulas mágicas ou promessas de enriquecimento fácil. O livro está disponível em versão física pela Amazon e versão digital pelo Google Play. Versão Física (Amazon): https://www.amazon.com.br/dp/6501162408/ref=sr_1_2?m=A2S15SF5QO6JFU Versão Digital (Google Play): https://play.google.com/store/books/details?id=2y4mEQAAQBAJ Instagram: @andrecharone Imagens: Divulgação / Consultório da fama |