VALPARAÍSO – Desabamento de casas mostra lado ‘hostil’ ao meio ambiente, drama de famílias e desafio do Ribeirão Saia Velha

by Amarildo Castro
  • Obra da construtora Bela Mares está entre as maiores na construção civil em andamento na cidade, fica atrás da Etapa D e revela uma imensa pressão sobre o Ribeirão Saia Velha, que sofre atualmente com a chegada de dezenas de condomínios praticamente às suas margens

POR AMARILDO CASTRO

Um estrondo, um desastre, 11 casas parcialmente destruídas e outras sete com rachaduras após o terreno ao lado ceder em função de uma escavação, bem profunda, com mais de 5 metros ‘terra adentro’. Foi assim a última quarta-feira, dia 16 para vários moradores do condomínio Flores do Bosque, que ficaram muito assustados, e em seguida, tiveram que deixar suas casas. A nova obra que causou o estrago em 18 casas é o novíssimo Residencial Mirante do Lago, que está em construção pela Bela Mares Incorporadora. A obra em questão fica no Lote 4, Quadra 6 no Loteamento Florais do Planalto, em Valparaíso de Goiás. Fica ainda atrás da antiga Etapa D. É um obra gigante, com 58.062,40m2 de área construída. Antes de qualquer discussão, o incidente mostra ainda o drama de várias famílias, independente dos fatos.

Empresa que causou o desabamento das casas tem construção gigantesca ao lado do condomínio afetado, no entanto, promete solução

Em termos de providências, a Secretaria de Meio Ambiente de Valparaíso de Goiás, comandada por Tadeu Martins, afirmou à reportagem do Blog do Amarildo que o órgão esteve no local imediatamente, e que a prefeitura, juntamente com a construtora deu apoio necessário e imediato às famílias atingidas, algumas delas foram realocadas em hotéis da cidade, até que a situação se resolva.

Tadeu explicou que a situação é mais complexa, e que a prefeitura apura em detalhes sobre o desabamento, mas que identificou também supostas irregularidades feitas por moradores em algumas residências, que estavam jogando água (de descarte, como de máquina de lavar), para fora do condomínio, diretamente no meio ambiente, onde agora é o terreno da obra em construção, e que isso pode ter agravado a situação e contribuído para o desmoronamento. No entanto, afirma que a construtora também será investigada pela situação da obra, para chegar se houve irregularidades nas escavações, para analisar que providências tomar.

Abaixo, casas afetadas pelo desmoronamento: de acordo com secretário de Meio Ambiente de Valparaíso, pasta apura também supostas irregularidades no descarte de água usada pelas residências de forma não autorizada no terreno da obra ao lado, além de supostas irregularidades por parte da construtora, no entanto, assistência está sendo dada aos afetados

De acordo com Tadeu, foram tomadas as seguintes medidas após o incidente:

Diligência da Municipalidade, composta do Secretário de Meio Ambiente, que também tem a função de coordenador de defesa civil, coordenador de licenciamento de obras, Superintendente de infraestrutura!

2. ⁠vistoria nos imóveis atingidos, vistorias na obra!

3. ⁠abertura de processo, já foi intimada a empresa responsável pela Obra para apresentação de documentos e o plano emergencial para contenção!!

4. ⁠foi determinada a desocupação de todos os moradores das casas 15 até a 26!

Detalhamento das ações de hoje desta sexta-feira, 18

1. Contato com a empresa responsável pela obra solicitando informações sobre as medidas de ontem e os prazos!!

2. ⁠resposta da empresa que entre as 12h e 17h já terá o plano emergencial!

Já a Bela Mares Incorporadora, para a imprensa no geral, explicou que todos as medidas estão sendo tomadas, e que as famílias afetadas foram realocadas para hotéis. A reportagem do Blog do Amarildo enviou email à empresa, e aguarda um posicionamento.

Empreendimento que causou desabamento de casas em Valparaíso, assim como outras dezenas, fica perto do Ribeirão Saia Velha, o que causa grande ‘pressão’ ao meio ambiente na cidade, mas Plano Diretor de Valparaíso (de 2012), permite

Lado ‘hostil’ ao meio ambiente e pressão ao Ribeirão Saia Velha

Embora possa parecer um incidente isolado, o desabamento das 11 casas no Condomínio Flores do Bosque, pela pressão da construção do novo condomínio Mirante do Lago, da Bela Mares Incorporadora, mostra o lado mais hostil ao meio ambiente em Valparaíso, que, conforme citou o Blog do Amarildo no inicio deste mês de julho, vem crescendo de forma assustadora, o que dificulta ainda uma fiscalização mais precisa. No caso dos novos condomínios da antiga fazenda onde hoje está o loteamento Florais do Planalto, onde ocorreu o desabamento, naquela região revela uma imensa pressão sobre o meio ambiente local, e sobre o Ribeirão Saia Velha, responsável por parte do abastecimento de Valparaíso, feito pela Saneago, que capta água logo acima dessa região.

Mudança na lei local em 2012 facilitou chegada de centenas de condomínios

Todo esse processo da chegada de centenas de condomínios foi ‘facilitado’ a partir de 2012, com a substituição da Lei 040/2006, pelo novo Plano Diretor de Valparaíso, que transformou os terrenos de várias chácaras e pequenas propriedades em mistas, com autorização para construções residenciais em grande escala.

Uma liderança local, que preferiu o anonimato, disse à reportagem que em 2012 o Plano Diretor de Valparaíso foi alterado às pressas, sem ouvir a população. Segundo o depoimento, a revogação da Lei 040/2006 transformou áreas destinadas a chácaras e indústrias (ZAR e ZAE) em zonas de uso misto (ZUM), permitindo uma ocupação desordenada, e assim, o crescimento urbano ficou sem controle, com grandes impactos ambientais graves e prejuízos para toda a cidade.

O mapa de Valparaíso (E) como era antes do no Plano Diretor de 2012, e depois com a aprovação da nova lei: caminho aberto para centenas de condomínios, mesmo em áreas de nascentes (as áreas amarelas, à esquerda, eram chácaras, que antes, não podiam receber construções residenciais de grande porte)

Para o entrevistado (prefere anonimato), o principal impacto ambiental em Valparaíso de Goiás decorre da revogação da Lei Complementar nº 040/2006 pela Lei nº 063/2012, que reformulou o Plano Diretor sem ampla participação popular. A medida rezoneou áreas classificadas como ZAR (Zona de Adensamento Restrito) e ZAE (Zona de Atividades Econômicas) para ZUM (Zona de Uso Misto), comprometendo o ordenamento territorial e favorecendo o adensamento urbano descontrolado.

Não ficou muito claro para as gestões posteriores, como fazer uma boa fiscalização sobre esse tema, e se haveria a partir daí, uma forma de ‘proteger’ o meio ambiente, já que quase todas as áreas do município foram transformadas em locais onde é possível construir condomínios verticais e horizontais. Assim, as construtora ‘elegeram’ a cidade como ‘bola da vez’ na construção civil, em especial pelos valores mais em conta dos terrenos, a grande procura pela proximidade com o Distrito Federal e uma legislação local bastante branda no que diz respeito ao meio ambiente.

O resultado de tudo isso é um crescimento espantoso da cidade na área residencial, e com pouca fiscalização em relação ao meio ambiente, há anos, embora isso venha mudando de forma discreta nos últimos anos, com a criação de novos mecanismo de fiscalização, mas no caso da chegada de grandes empreendimentos, muitos deles ao lado ou até mesmo em cima de nascentes ou cursos d`água, como ocorre hoje ao lado do Ribeirão Saia Velha, a situação, permitida por lei, é um dos principais gargalos da cidade, avaliou uma liderança local de Valparaíso, que preferiu o anonimato.

Postagens relacionadas

Deixe um comentário