- Disco tem participações especiais de Edu Lobo, Vitor Ramil, Jackson Antunes, Adriana Farias, Amazan, do músico português Rafael Carvalho e de Leonito e Xonadão da Sanfona, membros do Trio Parada Dura
Chico Lobo escuta muito que o sertão acabou e com ele, valores profundamente enraizados no Brasil profundo. Não dá para negar o grande êxodo rural, o processo de aculturação, a falta de identidade e o esfacelamento dos sentimentos de pertencimento, resultados de uma modernidade impiedosa. No entanto, o violeiro diz com firmeza, se engana quem acredita nisso. O sertão continua vivo, místico, dentro e fora de nós, metafísico. A agricultura familiar ganha força, a agroecologia vem ensinar novas práticas, a cultura de mutirão, de reavivamento, de resistência persiste. As festas e folguedos, comandados por tantos mestres, estão mais vivas do que nunca, e a viola é redescoberta. Reação à globalização? Talvez. Chico sempre buscou no sertão o entendimento para se conhecer melhor, para entender os sentimentos, de amor, fé, amizade, cumpadricidade, ações de mutirão e o sentimento de pertencimento. E chega à conclusão, de que o mundo de hoje, com seus grandes centros urbanos, doentes pelo individualismo e pela busca desvairada pelo “se dar bem”, precisam do sertão em seus corações.
O músico mineiro traz o sertão que conheceu, lendo Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, ouvindo a música caipira, sertaneja e sobretudo os sertões que conheceu por ter a oportunidade de percorrer tantos grotões de Minas Gerais e de um Brasil profundo. E assim conhecer tantos mestres, os modos de vida, os fazeres e o amor à terra. Ele se cerca nesse trabalho, mais uma vez, do parceiro e irmão o grande produtor musical Ricardo Gomes, responsável por arranjos e por comandar com alegria e sensibilidade a equipe de músicos, que estão no seu cotidiano como Léo Pires na bateria, Marcelo Fonseca no violino e cordas e outros, que foram se achegando, como o percussionista Diego Panda, o acordeonista Duduzinho, o celista Sérgio Rabelo, os vocais de Gi Saldanha e violão de sete cordas de Rafael Schimidt.
Chico Lobo tem convidados muito especiais nesse álbum, começando por Edu Lobo, um mestre que, não ensaca seu violão e continua firme, sendo referência da música brasileira, Vitor Ramil que vem dos pampas do sul um outro sertão, o Trio Parada Dura, que tanto ouviu com seu pai, o ator e cantor Jackson Antunes, que sai de Janaúba, norte de Minas Gerais, para ganhar o Brasil, o forrozeiro Amazan, que vem de Campina Grande, na Paraíba, a grande violeira Adriana Farias e o estudioso e tocador de viola dos Açores, em Portugal, Rafael Carvalho. Chico é movido pelas parcerias, isso alimenta o músico e assim destaca parceiros especiais de composição nesse álbum como Thales Martinez, Wander Lourenço, Makely Ka e Vitor Ramil.
“Lançar agora em 2025 o álbum produzido pela gravadora kuarup, que completou 48 anos de existência e resistência cultural, é fundamental para mim, por reconhecer a importância da Kuarup, no cenário da música brasileira”. “Eu que há mais de 40 anos, canto esse Brasil profundo, nos braços de minha viola, apresento a vocês o meu Sertão”, declara Chico Lobo, feliz por mais este lançamento.
Repertório
1 – Encruzilhada (Chico Lobo)
2 – Não Ensaco Essa Viola (Chico Lobo) – Participação: Edu Lobo
3 – Cantata (Chico Lobo e Vitor Ramil) feat Vitor Ramil
4 – Ponteio (Edu Lobo e Capinan)
5 – Hoje Sei Que Volto (Chico Lobo) – Participação: Adriana Farias
6 – Seis Fitas (Chico Lobo e Thales Martinez) – Participação: Leonito e Xonadão da Sanfona do Trio Parada Dura
7 – Forró Cerrado (Chico Lobo e Makely Ka) – Participação: Amazan
8 – Nosso Amanhecer (Chico Lobo)
9 – Profissão de Fé (Chico Lobo e Wander Lourenço) – Participação: Jackson Antunes
10 – A Teia da Viola (Rafael Carvalho e Silvia Silveira) – Participação: Rafael Carvalho
Faixa a faixa
1-Encruzilhada: o álbum abre com este tema do violeiro, que traz o místico da viola, nos sertões de Minas Gerais. As encruzilhadas, o medo, a fé, causos e histórias. Já anuncia o Sertão de Chico Lobo, para o público.
2- Não Ensaco Essa Viola: música de Chico Lobo, que homenageia artistas, que são referência e que não desistem de seu canto, como é o caso de Edu Lobo e que aqui é o grande convidado do violeiro dividindo as vozes. Tema forte que traz a rítmica mineira que marca a carreira do violeiro. “Não ensaco essa viola, enquanto a morte não chega. A certeza de que sua lida é nunca parar de cantar. Viva Edu Lobo.
3- Cantata: a música é uma parceria de Chico Lobo com Vitor Ramil, que aqui é mais um de seus convidados especiais. O violeiro já havia lançado essa música em seu álbum Caipira do Mundo em 2011. Agora com a participação de Vitor Ramil ela ganha outra roupagem e o músico mineiro faz a ponte de seu sertão com os pampas gaúchos.
4- Ponteio: tema emblemático da música brasileira, a música ganhou o primeiro lugar do III Festival da Música Popular Brasileira, organizado pela TV Record em 1967. É uma composição de Edu Lobo e José Carlos Capinan. Sempre marcou Chico Lobo. “Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar”. E é a viola que a mais de 40 anos o acompanha. Aqui uma versão emocionante de Chico Lobo, para homenagear Edu Lobo, artista que é referência para o violeiro.
5- Hoje Sei que Volto: composição de Chico Lobo, quase uma guarânia, gênero clássico da música caipira. Mais um tema, que trata o amor com a sensibilidade do sertão. “A saudade é lua cheia, que brilha alta no meu quintal”. E ganha muita força com a belíssima participação de Adriana Farias, violeira, cantora, autêntica representante da herança de dona Inezita Barroso.
6- Seis Fitas: uma parceria de Chico Lobo e Thales Martinez. Essa canção visita a relação de fé e o místico da viola, as seis cores das fitas, que Chico Lobo carrega em seu instrumento. Tradição dos violeiros das folias de reis de Minas Gerais. E aqui apresenta um encontro maravilhoso de Chico Lobo com o Leonito e Xonadão da Sanfona, que são do Trio Parada Dura, e que fazem tanto sucesso na música sertaneja brasileira. O resultado emociona, pelo cheiro de terra, de música de se ouvir no rádio, em tantos programas dedicados à música caipira brasileira. Produção musical de Ricardo Gomes.
7- Forró do Cerrado: parceria com o artista Makely Ka, natural de Valença, no Piauí, mas que reside já há muito tempo em Minas Gerais. Um forro pé de serra, desses que se dança a noite toda nos festejos pelos sertões do Brasil e como convidado tem a presença de Amazan, de Campina Grande, cidade do estado da Paraíba. Eles se conheceram em 1987 no Festival de Folclore de Caruaru, de Pernambuco, e o violeiro sempre quis ter Amazan em seu trabalho, chegou o momento. “Dançando o forró cerrado”.
8- Nosso Amanhecer: tema romântico de Chico Lobo, com ares de balada country, que o violeiro homenageia sua esposa e produtora, a 31 anos, Angela Lopes. Se conheceram num acampamento em meio ao sertão de Minas Gerais. Brilho de estrelas, lua, cercanias de um grande sertão.
9- Profissão de Fé: sempre marcado pelo movimento do Ariano Suassuna que gerou os grupos Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Quinteto Armorial, entre outros na década de 70, Chico Lobo revisita novamente a estética nordestina, nessa parceria com Wander Lourenço. Seu sogro já falecido, Seu André, saiu do Rio Grande do Norte, num pau de arara para o sul em busca de vida melhor. Acaba sendo uma homenagem. “Sigo por essa estrada, eu vi lá daquele norte”. Aqui a forte participação do ator e cantor Jakson Antunes, que saiu de Janaúba, norte dos sertões de Minas Gerais, para ganhar o Brasil.
10- Teia da Viola: o álbum fecha com a música que vem dos Açores, de Portugal, composição de Rafael Carvalho e Silvia Silveira. Chico Lobo foi convidado de Rafael Carvalho, exímio artista da viola da terra dos Açores, a juntar a sua viola caipira e sua voz, nesse tema, que foi lançado no álbum de Rafael Carvalho em Portugal. A identificação com a letra e a melodia despertou no violeiro o desejo de regravar em seu álbum Sertão e assim manter a ponte de amizade que o liga a Portugal desde 2006. Chico Lobo já esteve por três vezes nos Açores, a convite de Rafael Carvalho, uma vez para o Encontro de Violas D’arame e duas vezes para o Festival Violas do Atlântico. E assim, a amizade e a partilha de culturas pelas cordas das violas se mantém com muita força.
Sobre Chico Lobo
Natural de São João Del Rey o violeiro Chico Lobo tem mais de 40 anos de carreira e é considerado pela crítica como um dos artistas mais atuantes no cenário nacional na divulgação e valorização da cultura de raiz brasileira. Com 27 CDs lançados, dois DVDs, livro e shows por todo o Brasil e diversos países como Portugal, Itália, China, Canadá, Argentina, Chile, Colômbia, o músico canta suas raízes e as conecta com nossa contemporaneidade. Folias, catiras, modas, batuques, causos e toques de viola, desfilam com alegria em suas apresentações. Venceu por quatro vezes consecutivas (2015, 2016, 2017 e 2021) o Prêmio Profissionais da Música como Melhor Artista Regional, prêmio que acontece anualmente em Brasília. O artista mantém em sua cidade natal o Instituto Chico Lobo, que desenvolve projeto de ensino de viola e cultura raiz para as crianças das zonas rurais na cidade mineira de São João Del Rey. Desde 2006 Chico Lobo mantém relação artística com Portugal no Encontro de Violas em parceria com o músico e parceiro português Pedro Mestre, representante maior da viola campaniça da região do Alentejo. Esse encontro gerou o CD Encontro de Violas e o DVD De Minas ao Alentejo dando vida a um encontro ainda maior que já vai para a 11° edição do Encontro de Violas de Arame. Chico Lobo, o representante brasileiro nesses encontros, já trouxe duas edições presenciais ao Brasil e uma virtual. Amizade e partilha pelas cordas da viola que une Brasil e Portugal. Em 2015 Maria Bethânia escolheu sua cantiga Criação, para compor o repertório de seu show e DVD Abraçar e Agradecer, comemorando os 50 anos de carreira. Depois Bethânia, gravou participação no álbum Viola de Mutirão, cantando a moda de viola Maria, que Chico Lobo fez em sua homenagem. Apresentador de TV, de rádio, produtor musical, escritor, cantor, o violeiro inquieto faz com que sua obra torne a aldeia global mais caipira.
Sobre a Kuarup
Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.