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Com o Outubro Rosa, cresce a atenção para a detecção precoce e tratamento do câncer de mama e as novidades na área são sempre importantes para elucidar novos caminhos terapêuticos contra o tipo de câncer que mais mata mulheres no mundo.Para ajudar a esclarecer sobre as novidades e os avanços na área, o Dr. Vinicius de Borba Marthental, cirurgião oncológico do Hospital Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, responde a perguntas sobre diagnóstico precoce, tratamentos inovadores e tecnologias que estão transformando a prática médica. 1) Quais são as novidades no tratamento do câncer de mama? Nos últimos anos, surgiram terapias que atacam o câncer de forma mais precisa e essa é uma boa novidade para médicos e pacientes. Vamos falar sobre algumas delas:· Medicamentos “inteligentes”: existem terapias chamadas de conjugados anticorpo-droga (ADC), como o Trastuzumabe deruxtecana (T-DXd). Esses medicamentos combinam a quimioterapia com anticorpos capazes de reconhecer características específicas das células tumorais. Na prática, isso significa que a droga consegue direcionar melhor o tratamento para o tumor, aumentando a concentração do fármaco no local da doença.É importante destacar, porém, que embora tenham como alvo proteínas ou alterações específicas das células cancerosas, esses medicamentos ainda podem interagir em menor grau com células normais. Mesmo assim, representam um grande avanço em relação à quimioterapia convencional, que atinge células doentes e saudáveis de forma indiscriminada. · Tratamentos combinados: para tumores com receptores hormonais positivos e HER2 negativo, existem inibidores de CDK4/6, como Abemaciclib e Ribociclib. Esse tipo de tratamento envolve mais de um tipo de terapia para tratar a doença de forma mais eficaz, atacando as células cancerígenas com terapia sistêmicas por meio de medicamentos que agem no corpo todo. A combinação de medicamentos permite que o tratamento atinja tanto o tumor primário como possíveis metástases presentes em outras partes do corpo. · Imunoterapia: para tumores triplo negativo, o uso do Pembrolizumabe com quimioterapia melhora os resultados, apresentando outra técnica de tratamentos combinados.· Terapias dirigidas por alterações genéticas: pacientes com mutações BRCA podem se beneficiar de drogas como Olaparibe, que reduzem o risco de recorrência, ou seja, as chances de recidiva são minimizadas. 2) Essas terapias já estão disponíveis no Brasil e funcionam bem?Sim, várias já foram aprovadas pela Anvisa e têm mostrado benefícios clínicos reais. Exemplos incluem Trastuzumabe deruxtecana (HER2-low e HER2-ultralow), Sacituzumabe, Abemaciclib e Olaparibe.3) Existem outros tratamentos eficazes?Sim. Há outras terapias que também ajudam no tratamento do câncer de mama. São elas:· Radioterapia intraoperatória (INTRABEAM): radiação direta no leito tumoral durante a cirurgia, encurtando o tratamento em casos de baixo risco.· Hormonioterapia: bloqueia hormônios que alimentam certos tumores, com medicamentos como Tamoxifeno, Inibidores de Aromatase e supressão ovariana em mulheres pré-menopausa.· Outros tratamentos complementares: terapia anti-metástase óssea (bifosfonatos) e drogas em estudo, como mTOR, HER3 e receptor androgênico. 4) Os pacientes do SUS também têm acesso a essas terapias inovadoras? Em geral, está coberto no SUS, cirurgia, radioterapia externa, quimioterapia e hormonioterapia. Medicamentos anti HER2, temos trastuzumabe (anti HER2 clássico), nas indicações previstas (adjuvante e 1ª linha metastática HER2 +). Os Inibidores de CDK4/6 (abemaciclib, palbociclib, ribociclib) para casos avançados e HER2 negativos. Ainda não está incorporado ao SUS trastuzumabe deruxtecana, Pembrolizumabe (imunoterapia) e Olaparibe para câncer de mama 5) O diagnóstico precoce continua sendo o melhor caminho para a cura?Sim. Detectar o câncer de mama em fase inicial aumenta muito as chances de cura e reduz mortalidade. O rastreio consciente e a educação sobre prevenção devem ser feitos o ano todo. 6) Quando começar a fazer mamografia e com qual frequência?As mulheres sem fatores de alto risco devem começar a fazer mamografia anualmente, a partir dos 40 anos. Já aquelas com alto risco (BRCA, histórico familiar relevante, irradiação torácica prévia) devem se submeter aos exames de mamografia e ressonância magnética mais cedo, conforme orientação médica.Vale destacar que a frequência e o tipo de exame devem ser ajustados individualmente, considerando idade, densidade mamária e histórico familiar.É importante informar também que o Ministério da Saúde alterou, em setembro deste ano, o protocolo para início do rastreamento de mamografias, reduzindo a idade de 50 para 40 anos, o que está alinhado ao perfil epidemiológico brasileiro e de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Mastologia e do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. 7) A Inteligência Artificial (IA) ajuda na detecção do câncer de mama?A IA pode atuar como um “leitor adicional” na mamografia, substituindo um dos radiologistas sem perder precisão. Estudos mostram que ela melhora a eficiência e pode aumentar a detecção de tumores, embora ainda seja cedo para garantir diagnóstico precoce em larga escala. 8) O Hospital Edmundo Vasconcelos disponibiliza essas terapias?O Hospital oferece acesso a diversos tratamentos, incluindo cirurgia, Quimioterapia, Hormonioterapia, Terapias anti-HER2 e Imunoterapia. 9) O que o senhor pode dizer às mulheres sobre essas novas possibilidades de tratamento? Há mais esperança em tratamentos bem-sucedidos?Na oncologia, ciência e tempo trabalham a nosso favor. Nos últimos anos, terapias-alvo, imunoterapia e drogas conjugadas a anticorpos, abriram portas onde antes havia limites, trazendo respostas mais duradouras, melhor qualidade de vida e, em alguns cenários, maior chance de cura. Há, sim, mais esperança quando aliamos tecnologia, equipe treinada e decisões individualizadas. Ainda assim, a mensagem principal não muda: o diagnóstico precoce é o maior determinante de sucesso. Manter o rastreamento adequado, conhecer o próprio risco e não postergar sinais ou sintomas é tão importante quanto qualquer nova droga Imagem – Dr. Vinicius de Borba Marthentalhttps://drive.google.com/file/d/1qxy4-CY_hgHgywWa1TGg6uDzHgKfC0CC/view?usp=sharing |