DESMATAMENTO E OUTROS RISCOS – A dura realidade das onças (e outras espécies) no Centro-Oeste

by Amarildo Castro

Blog do Amarildo prepara reportagem e documentário completos sobre o drama da das onças-pardas, pretas e pintadas no Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, onde a perda da vegetação e mortes constantes realizadas por fazendeiros – quando elas atacam criações – deixa a espécie completamente vulnerável

POR AMARILDO CASTRO (COM TRECHOS DE REPORTAGEM PUBLICADA PELO INSTITUTO SOS PANTANAL)

Um drama, risco de extinção, suspense e medo. Tudo isso envolve um dos animais mais conhecidos em todo o Brasil, em especial no Centro-Oeste, a onça, que é distinta no brasil por três espécies em especial, a parda (Puma concolor), preta, pintada (Panthera onça) e Jaguatirica (Leopardus pardalis).

Uma das espécies mais comuns em Goiás, a onça-parda, de acordo com o site Wikipédia, o animal é também conhecido no Brasil por suçuarana e leão-baio, é um mamífero carnívoro da família dos felídeos e gênero Puma, nativo da América. Foi originalmente classificada no gênero Felis, mas estudos genéticos demonstram que a espécie evoluiu em uma linhagem próxima à chita e ao gato-mourisco. Em Goiás, continua sendo a mais vista, e também que maior mortalidade sofre em fazendas. Veloz, está entre os animais mais rápidos da natureza, podendo atingir até 80km/h quando tenta capturar uma presa, e embora seja sempre visada por caçadores, ainda sim, consegue escapar de várias emboscadas, o que faz ser um animal especial.

Área anteriormente preservada no município de Nova Aurora-GO, hoje deu lugar a uma usina hidrelétrica, ação que está entre os problemas ambientais em todo o país quando diz respeito à preservação da natureza, afetando os animais

Berço das onças-pardas no passado distante, e agora, o risco

Em Goiás, um dos territórios considerados berços desse animal no passado, a devastação a largos passos, especialmente para o cultivo de soja e milho, assim como a perca do habitat em geral, torna esse animal um dos mais vulneráveis da natureza.

“Matei porque estava comendo minha galinha”, cita um fazendeiro, pedindo anonimato à reportagem. Ele comentou que o bicho estava dando muito prejuízo à sua criação. A situação é comum nas fazendas Centro-Oeste adentro. Embora seja crime, esses fazendeiros dizem que não têm escolha porque o animal sempre ataca na porta de casa, causando estragos às criações de animais.

Animais soltos na natureza por órgãos ambientais

A reportagem do Blog do Amarildo apurou até agora que nos últimos anos diversos municípios teriam (informação ainda não confirmada de forma oficial) recebido exemplares soltos na natureza por órgãos ambientais. Assim, em várias regiões onde esses bichos já estavam praticamente extintos, como Nova Aurora, Goiandira, Catalão e Corumbaíba, em Goiás voltaram a ter exemplares ou maior números deles após essas supostas ações.

E dessa forma, a mortalidade ao se aproximar de fazendas com animais domesticados, já estaria acontecendo como forma de proteger essas criações de domésticos.

Em Minas Gerais, no município de Unaí, um fazendeiro mostrou à reportagem, recentemente, porcos mortos, que teriam sido atacados por onças em 2021. E mais uma vez, o personagem disse que é difícil conviver com o animal, que traz prejuízos. No mesmo município, um registro contado por moradores antigos também dão conta que as onças pardas podem trazer risco aos humanos, especialmente crianças. “Pegou há uns 30 anos, uma criança de 10 anos que estava numa parada de ônibus, em área rural para ir para a escola, matou o menino e comeu um pedaço”, relata um morador, na condição de anonimato. O relato vem de uma região do Ribeirão Canabrava.

Esse tipo de depoimento mostra que além de ser um bicho bastante perseguido por caçadores, a onça é um animal lendário, que hoje corre muito risco de extinção, e que precisa de mais cuidados por parte dos órgãos ambientais para sua sobrevivência no país.

Dessa forma, a reportagem prepara um grande documentário sobre as onças de Goiás e Minas Gerais e Distrito Federal, Estados (e federação) onde esses bichos estão muito vulneráveis.

Pegada de uma onça registrada por uma voluntária em área de preservação ambiental no DF: esperança. (Foto de Professora Heloisa Helena Carvalho de Oliveira)

Distrito Federal, esperança

Com território reduzido, e também afetado pela produção de soja e milho, o Distrito Federal também pode ser incluído nas áreas de alto risco para as onças, tamanduás, lobos-guarás e outros animais típicos do Cerrado. No entanto, há cenas que podem ser animadoras. Há vários registros de onças ou pegadas desses animais em áreas de preservação, os quais ambientalistas evitam divulgar para evitar caça predatória. Também há informações de um casal de onças pretas na região do Gama. Assim, apesar dos desafios, muitos acreditam que ainda há espaço para esses animais no DF.

Problemas e luta por preservação no Pantanal matogrossense

Maior planície inundável do planeta em extensão contínua, o Pantanal e sua rica biodiversidade enfrentam mais uma ameaça. Depois de ter sido drasticamente afetado pelos incêndios em 2020 e 2021, o bioma, em sua porção no Mato Grosso do Sul, pode sofrer danos ambientais irreversíveis caso áreas naturais da planície sejam convertidas em plantio de soja de larga escala. Quem faz o alerta por meio de uma campanha de sensibilização junto à sociedade civil e ao Poder Público é o Instituto SOS Pantanal, que lançou uma petição on-line em 2022 para recolher assinaturas de apoio à causa.

Expansão da agricultura é o maior risco para as onças e outros animais no Pantanal, em Mato Grosso do Sul (Foto: Instituto SOS Pantanal)

De acordo com o instituto, atualmente existem menos de 3 mil hectares plantados de soja dentro da planície pantaneira no Mato Grosso do Sul, localizados nos municípios de Coxim, Miranda e Aquidauana. Pode parecer um número pequeno, mas há um risco efetivo de crescimento destas áreas nos próximos anos, podendo afetar seriamente o equilíbrio do meio ambiente. Os investimentos em infraestrutura como estradas e aterros dentro da planície vão facilitar a produção e seu escoamento em um futuro próximo.

Embora ainda não se possa avaliar os impactos gerados por esses 3 mil hectares de soja cultivados, o diretor de Comunicação e Engajamento do SOS Pantanal, o biólogo Gustavo de Carvalho Figueiroa, afirma que é consenso, entre representantes rurais e de outras instituições que atuam na defesa do ecossistema, de que o plantio em larga escala do grão é um risco, pois interfere diretamente no meio ambiente e o Pantanal, segundo ele, não tem vocação para esse cultivo. “O bioma tem a vocação para a pecuária, que está estabelecida na região há mais de 200 anos. Bem manejada, a produção pecuarista mantém uma relação de equilíbrio com o Pantanal. Já a soja, não, pois requer o desmate de grandes áreas e o uso de defensivos agrícolas para viabilizar a produção em larga escala”, avalia.

Rios ameaçados

Ainda de acordo com Figueiroa, há um exemplo na região da cidade vizinha ao Pantanal, Bonito (MS). Hoje, a região toda tem seus principais rios ameaçados pelo avanço do cultivo de soja em regiões de banhado, mais vulneráveis a qualquer alteração. “A morosidade do Estado em pautar ou direcionar o avanço dessas lavouras propiciou que ele fosse desordenado em locais ambientalmente sensíveis a um custo enorme para a região”, contextualiza.

O Mato Grosso do Sul possui 35,7 milhões de hectares em sua totalidade. Em 2021/2022, 3,7 milhões de hectares foram utilizados para o plantio de soja (11% do Estado). Porém, existem atualmente 8 milhões de hectares de áreas degradadas que poderiam ser convertidas em plantio sem necessidade de avançar no Pantanal. “Diante desse cenário, a hora de pautar e direcionar esforços nessa legislação é agora, quando ainda há poucos hectares de soja na planície e não há tempo a perder”, enfatiza o presidente do SOS Pantanal, Alexandre Bossi, sobre a urgência de sensibilizar a todos – sociedade civil, opinião pública, ambientalistas e a classe política do Mato Grosso do Sul – sobre os riscos que o amplo cultivo de soja pode acarretar.

Ainda de acordo com Bossi, o Estado vizinho, Mato Grosso, já possui uma legislação que impede o cultivo de soja na planície. “O Mato Grosso do Sul deveria seguir o mesmo caminho. Viemos alertar sobre o futuro da planície e trazer à tona futuros problemas e, com eles, possíveis soluções, inclusive econômicas”, diz.

Segundo Figueiroa, no Pantanal, por ser uma grande extensão alagável, o risco de malefícios gerados por uma produção agrícola em larga escala é potencializado por conta da utilização de moléculas de ação biocidas (inseticidas, fungicidas, herbicidas e nematicidas), que visam ao controle de pragas, doenças e plantas invasoras. Ocorre, conforme ele explica, que esses produtos possuem compostos poluidores, como metais pesados, surfactantes e emulsificantes, dentre outros, que, quando entram em contato com o solo, não há barreira física que os impeça de contaminar a água de todo o sistema, afetando esse bioma que é abrigo de uma rica biodiversidade e de populações tradicionais.

Essa iniciativa, que já conta com o apoio de várias outras organizações que atuam em prol da conservação ambiental – como Ampara Silvestre, Ecoa, Onçafari, Instituto Arara-Azul, Projeto Onças do Rio Negro, SOS Mata Atlântica e WWF Brasil –, também está tendo grande adesão e receptividade junto aos pantaneiros, afirma Figueiroa. “Eles têm a compreensão de que a natureza fala mais alto nesse bioma e precisa ser respeitada”, cita, lembrando que no Pantanal há pelo menos 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce, sendo que algumas delas em risco de extinção. “Não podemos permitir que esse equilíbrio seja abalado por uma atividade altamente destrutiva como os plantios de soja em larga escala”, pondera.

Nesse sentido, Bossi diz que o SOS Pantanal, por meio desta campanha, reafirma seu compromisso com as práticas sustentáveis na região. “Nossa principal agenda sempre foi, e continua sendo, o desenvolvimento econômico aliado à conservação ambiental. Para nós, a produção agropecuária conduzida de forma sustentável, aliada ao desenvolvimento do ecoturismo, é o caminho rumo a esse objetivo. É exatamente por isso que ressaltamos que o Pantanal não é lugar de soja”, finaliza.

Para assinar a petição on-line, acesse https://secure.avaaz.org/community_petitions/en/governo_do_mato_grosso_do_sul_nao_deixe_a_soja_entrar_no_pantanal/?cZcJetb&utm_source=sharetools&utm_medium=copy&ut

Sobre o Instituto SOS Pantanal

Fundado em 2009, o Instituto SOS Pantanal é uma instituição sem fins lucrativos que promove a conservação e o desenvolvimento sustentável do bioma Pantanal por meio da gestão do conhecimento e da disseminação de informações sobre o ecossistema para governos, formadores de opinião, comunidades, fazendeiros e pequenos proprietários de terra da região, assim como à população em geral. Tem por missão, ainda, atuar permanentemente em prol da conservação da biodiversidade e dos recursos naturais.

Site: https://www.sospantanal.org.br

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