Especialista explica quais as doenças que Zambelli afirma ter e que, segundo ela, a impediriam de sobreviver à prisão

Após ser condenada a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) deixou o Brasil e alegou publicamente que não suportaria o ambiente carcerário por conviver com duas condições crônicas graves: a Síndrome de Ehlers-Danlos (SED) e a Síndrome da Taquicardia Postural Ortostática (POTS). Embora pouco conhecidas, ambas as doenças são complexas e impactam profundamente a qualidade de vida dos pacientes.

De acordo com a médica fisiatra Angélle Jácomo, do Centro Especializado em Hipermobilidade e Dor (CEHD), em Brasília, a Síndrome de Ehlers-Danlos é uma condição hereditária incurável que afeta o tecido conjuntivo, estrutura responsável por dar sustentação, flexibilidade e firmeza ao corpo. Seus efeitos podem ser sistêmicos, comprometendo o funcionamento dos sistemas musculoesquelético, cardiovascular, gastrointestinal e neurológico.

Entre os sintomas mais comuns estão: dores crônicas, fadiga intensa, hipermobilidade das articulações, dificuldades motoras, fragilidade da pele, distúrbios vasculares e neurológicos.

O subtipo mais prevalente é o hipermóvel, uma condição multissistêmica, complexa e crônica, que exige acompanhamento multiprofissional. “O tratamento das disfunções do tecido conjuntivo requer uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeutas, fisioterapeutas, geneticistas, cardiologistas, neurologistas, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e médicos da dor. Cada especialista contribui para o controle da dor, estabilidade muscular, saúde emocional e prevenção de complicações sistêmicas, oferecendo suporte integral ao paciente”, explica o especialista.

Já o subtipo vascular (SEDv) é considerado o mais grave, devido às suas possíveis complicações fatais. Nesse quadro, o tecido conjuntivo das paredes dos vasos sanguíneos e órgãos internos é extremamente frágil, podendo levar a rupturas arteriais, perfurações intestinais e morte súbita. Em casos de alto risco, recomenda-se evitar traumas, fazer exames regulares de imagem, controlar a pressão arterial e, eventualmente, utilizar betabloqueadores.

Conexão com a Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática
A Síndrome de Taquicardia Postural Ortostática (POTS) é uma condição de desregulação do sistema nervoso autônomo, responsável por controlar funções involuntárias do corpo, como batimentos cardíacos e pressão arterial. Ela é caracterizada por um aumento anormal da frequência cardíaca quando uma pessoa fica em pé, sem queda significativa da pressão arterial. Esse quadro provoca sintomas como tontura, palpitações, fadiga intensa, náuseas, visão turva e sensação de desmaio iminente.

“Embora ainda pouco conhecido, a POTS tem ganhado atenção por sua forte associação com a Síndrome de Ehlers-Danlos hipermóvel (SEDh). Estudos apontam que até 25% dos pacientes com POTS também apresentam SEDh, o que sugere uma ligação direta entre a fragilidade do tecido conjuntivo e a dificuldade do corpo em manter o retorno venoso ao se levantar”, esclarece o neurologista Welber Oliveira, da Clínica CEHD.

Segundo ele, as causas da POTS ainda estão sendo investigadas, mas há três principais hipóteses: uma resposta autoimune desencadeada por infecções virais (como a COVID-19), uma hiperatividade do sistema nervoso simpático, e uma neuropatia autonômica.

Apesar de não haver cura definitiva, o tratamento é possível e pode melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes. Ele inclui mudanças no estilo de vida (aumentar a ingestão de líquidos e sal, uso de meias compressivas, recondicionamento físico), além de medicamentos que ajudam a controlar os sintomas. O acompanhamento médico deve ser individualizado e, muitas vezes, envolver uma equipe multidisciplinar, incluindo cardiologistas, neurologistas, fisiatras e reumatologistas.

Prisão preventiva
Nesta quarta-feira (4/6), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), recebeu o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e decretou a prisão preventiva da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), que deixou o país em 25 de maio. Além da ordem de prisão, o magistrado impôs diversas restrições ao parlamentar, como o bloqueio de passaportes, bens, contas bancárias, cartões de crédito, redes sociais, entre outras medidas.

Zambelli deixou o Brasil após ser condenado pela Primeira Turma do STF a 10 anos e oito meses de reclusão por invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inserção de documentos falsos, em 2023.

Recentemente, um parlamentar afirmou estar nos Estados Unidos, onde estaria realizando tratamento médico para a Síndrome de Ehlers-Danlos, e manifestou intenção de se mudar para a Itália
Além da SED e da POTS, a deputada informou fazer uso de medicamentos para tratar depressão.
“Estou reunindo vários laudos médicos, e todos são unânimes em afirmar que eu não sobreviveria em regime prisional. Pretendemos apresentar essa documentação no momento oportuno”, declarou Zambelli após a decisão do STF.

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