- Mais de 290 corporações, incluindo gigantes como Coca‑Cola, Nestlé, Unilever, PepsiCo, SC Johnson, Mars e Walmart, assinaram uma carta aberta organizada pela Coalizão Empresarial por um Tratado Global sobre Plásticos.
No documento, os signatários defendem um tratado com regulamentações padronizadas e obrigatórias, argumentando que abordagens voluntárias e regulamentações fragmentadas têm se mostrados ineficazes e onerosos para empresas e governos. A carta propõe medidas concretas, como a eliminação gradual de plásticos problemáticos, design padronizado de embalagens e o fortalecimento da responsabilidade do produtor (REP).
A coalizão acrescenta que um acordo global robusto poderia ser mais eficaz do que iniciativas isoladas, potencialmente prejudiciais ao dobro de plásticos problemáticos e trazendo em até 23% os resíduos mal gerenciados. Além disso, estima-se que uma harmonização regulatória poderia estimular investimentos em economia circular e elevar os montantes arrecadados por esquemas de REP para US$ 576 bilhões até 2040.
Análise: Pedro Prata, Oficial de Políticas Públicas na América Latina da Fundação Ellen MacArthur
A carta aberta assinada por mais de 290 empresas envia um recado claro aos governos: é possível avançar rumo a um tratado de ambição global contra a poluição plástica com o apoio do setor privado. Longe de representar uma entrada ao crescimento, a transição para uma economia circular do plástico é vista por essas corporações como um caminho viável, necessário e até vantajoso para os negócios. A iniciativa sinaliza que há um setor empresarial disposto a colaborar, desde que os instrumentos regulatórios oferecem previsibilidade e coerência entre os países.
O principal apelo das empresas é pela harmonização das regulamentações. Esse alinhamento nas regras internacionais facilitaria a adaptação dos modelos de negócio à nova realidade circular. Com regras alinhadas globalmente, as empresas afirmam que ganham mais capacidade de investimentos planejados, escalar soluções circulares e inovar com segurança jurídica. Em outras palavras, o tratado pode deixar de ser um custo ou imposição e se tornar um curso de transformação sistêmica, estimulando o redesenho de embalagens, cadeias logísticas e metas de reciclagem.
A própria carta, assim como os documentos divulgados pela Coalizão Empresarial por um Tratado Global sobre Plásticos, reforça que abordagens voluntárias e legislações fragmentadas não geraram os impactos necessários. Ao defender metas vinculantes e obrigações comuns, as empresas mostram que estão prontas para ir além de compromissos individuais, mas que precisam de um ambiente regulatório que torne essa ambição técnica e economicamente viável. Vemos então uma rara convergência entre interesse público e interesse privado em torno de um mesmo objetivo: eliminar a poluição plástica da raiz.
Políticas agrícolas incentivam a produção com menos agrotóxicos e solo mais protegido
O governo federal anunciou, nesta semana, o valor do plano para a agricultura familiar de R$ 89 bilhões em investimentos para o biênio 2025/2026 do Plano Safra. O valor bruto de produção, que mensura monetariamente tudo o que foi produzido a cada ano, saltou de R$ 930 bilhões em 2018 para R$ 1,4 trilhão em 2025. Para a agricultura empresarial brasileira, o valor foi de R$ 516,2 bilhões.
O montante representa um aumento de 1,5%. Buscando garantir maneiras mais sustentáveis de produção, entre os destaques estão linhas de crédito com condições diferenciadas, como juros reduzidos para produtores que adotam práticas sustentáveis, como o uso de bioinsumos, sistemas agroecológicos e sociobiodiversidade. Também há apoio para o plantio de mudas, reflorestamento e cultivo de espécies de cobertura, fundamentais para a preservação do solo entre safras.
O pacote de medidas vem acompanhado do lançamento do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), formalizado na última segunda-feira (30). O programa reúne ações integradas para a transição agroecológica, com foco na redução do uso de insumos químicos e no fortalecimento da produção sustentável de alimentos. As frentes de atuação incluem pesquisa científica, monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos e no meio ambiente, assistência técnica rural (Ater) e estímulo ao uso de bioinsumos, promovendo ganhos para a saúde humana, ambiental e para a agricultura familiar.
Análise: Victoria Almeida, Gerente de Programas da América Latina na Fundação Ellen MacArthur
A produção de alimentos é hoje responsável por um terço das emissões de gases do efeito estufa, mundialmente, e contribui para a perda de biodiversidade. Mas ela pode ser redesenhada de forma a contribuir com a regeneração dos ecossistemas. As políticas públicas são um instrumento fundamental para a transferência dessa transformação, por isso é positivo ver que o Plano Safra está incluindo investimentos em práticas que podem trazer resultados regenerativos à natureza, capazes de gerar benefícios não apenas econômicos, mas também ambientais, como a preservação do solo, da água e da biodiversidade.
Esperamos ver políticas que aliem cada vez mais os resultados econômicos e ambientais no âmbito da agricultura. Isto é, políticas que consideram os princípios de economia circular e incentivam a eliminação da poluição, como no caso da redução do uso de agrotóxicos, e da regeneração da natureza. Com mais incentivo aos agricultores para realizar essa transição de modelos convencionais para modelos regenerativos, mais rapidamente teremos um setor agrícola que não é apenas uma fortaleza econômica para o país, mas que também contribui para enfrentar os desafios ambientais.
Artigo: Posso ver o seu solo?
O artigo “Posso ver o seu solo?”, publicado pela Fundação Ellen MacArthur, apresenta os resultados e aprendizados do projeto “O Grande Redesenho de Alimentos”. Lançada em 2023, uma iniciativa de apoio a empresas do setor alimentar na criação de novos produtos ou reformulação de produtos já existentes, com base nos princípios da economia circular e da regeneração da natureza. Ao incorporar ingredientes diversos, reaproveitados e de baixo impacto ambiental, 57 empresas desenvolveram 141 produtos que superaram em 18% a média do setor em métricas como saúde do solo, uso da água e emissões.
Com relatos de participantes — incluindo o brasileiro Mahta — o artigo destaca que um dos principais aprendizados foi o fortalecimento do relacionamento com agricultores locais. Essa proposta possibilitou inovações importantes, como o aproveitamento de subprodutos e o aumento da produtividade e da renda no campo. Um exemplo é o próprio Mahta, que aprofundou sua colaboração com os agricultores ao desenvolver a torta prensada de cupuaçu (um subproduto normalmente descartado) como ingrediente para seus shakes.
“São essas pequenas vitórias silenciosas que muitas vezes não aparecem nos rótulos ou na mídia, mas representam um avanço significativo no impacto e na inovação que buscamos alcançar junto à sociobioeconomia amazônica”, diz Max Petrucci, CEO da Mahta.