Maternagem e a experiência que vai além dos desafios de ser mãe

Os caminhos para mães com menos culpa, capazes de construir melhores momentos com seus filhos e prepará-los para o mundo.

Maternagem e a experiência que vai além dos desafios de ser mãe

Por Mônica Cereser

Enquanto a maternidade é tradicionalmente entendida pela relação consanguínea entre mãe e filho, a “maternagem” é estabelecida no vínculo afetivo do cuidado e acolhimento ao filho por uma mãe. A “maternagem” e a experiência de ser mãe são conceitos profundos, que envolvem aspectos emocionais, físicos, psicológicos e sociais.
A “maternagem” e a experiência de ser mãe envolvem um espectro de sentimentos e responsabilidades. Embora haja muitas dificuldades e frustrações, as mães costumam encontram um sentido profundo de propósito e satisfação em suas trajetórias, celebrando cada conquista e enfrentando os desafios com aprendizado e amor.

Para entender essas diferenças e ter um aprendizado sobre o tema é importante se priorizar e ouvir sua “criança interior”. Os caminhos para mães com menos culpa, capazes de construir melhores momentos com seus filhos e prepará-los para o mundo.

Se deposita na mãe uma série de cobranças. Maternagem não é isso. O exercício da “maternagem” é cuidar. E eu não consigo cuidar do outro, sem cuidar de mim. É como a máscara de oxigênio que cai, quando a nave entra em pane. Você precisa colocar primeiro em si mesma para respirar e ajudar o outro. O que mais me chama atenção nessa temática é como eu posso ajudar: identificar a “criança ferida” dessas mães. Para que elas possam se conhecer, criando assim filhos mais resolvidos.

A gente procura fazer tudo para que nossos filhos não sofram. A gente se equivoca com isso. Precisa mostrar para o filho que ele precisa se frustrar. Quando a mãe superprotege, ela está dizendo a ele que não é capaz. Isso é bem grave, porque gera pessoas incapazes, as vezes até, de ter um relacionamento.

Eu comecei minha caminhada há muito tempo, buscando autoconhecimento e em certo momento resolvi colocar em ação um desejo que tinha de ajudar as crianças e pais que chegavam ao meu consultório com distúrbios emocionais. Eu ficava inconformada em ver como eles perdiam seu brilho, por falta de conexão com os pais, e também o despreparo de alguns pais em relação a forma de educar os filhos.

Como psiquiatra atendia muitas mães estressadas, depressivas ou ansiosas, pois não sabiam como cuidar do acúmulo de funções que exerciam. Elas priorizam seu entorno, muitas vezes esquecendo de si mesmas, presas na irritação, tristeza, culpa e até ansiedade.

Na clínica pude colocar, em prática, a importância da autorregulação e de perceber quando elas estão perdendo a capacidade de lidar com as emoções. Aí elas entram num ciclo vicioso de só reagir e não parar para pensar.

Esse pensamento já me acompanha há muito tempo. Cuidar dos pais, antes de cuidar das crianças. Se a mãe não está preparada, fica muito mais complicado. Em algum momento é preciso “empurrar” o filho para vida. Entendi que preciso colocar cada um no seu papel. Você vê muita família com papéis invertidos.

Eu teria sido uma mãe com menos culpa e desfrutado melhor a “maternagem” sem as cobranças próprias, inseguranças e medos, muito deles fantasiosos, pela pura falta de conhecimento.

Eu costumo passar para as mães que me procuram que elas busquem esse conhecimento e entendam como elas funcionam nos seus traços de caráter e descobrindo sobre sua personalidade, como lidam com as próprias emoções e aprenderam a lidar com a sua “criança interior”. Com esse conhecimento elas conseguem se posicionar, se priorizar, e gerar um modelo para seus filhos.

Quando tive meus filhos, sou mãe de três , eu não tinha as informações que tenho agora e que, para mim, são muito preciosas, pois não envolvem somente teorias do desenvolvimento, mas sim o que acontece no mundo emocional deles.

Eu não tinha a dimensão de que estava vivendo um stress intenso. Daí começa-se a viver no automático e não conseguimos mais racionalizar e começar a tomar as melhores atitudes. Eu não entendia que poderia pedir ajuda, que não precisava ser perfeita. Ficar mais no presente e não no passado. E trabalhar também a assertividade. Dizer mais não, inclusive o não que quer dizer sim.

Quando a gente pensa em saúde mental, falamos no equilíbrio entre os 4 quadrantes da qualidade de vida: social, afetivo, profissional e saúde.
Se estamos distribuindo nossa energia em cada um desses quadrantes de maneira equilibrada. Há propriedades quando cuidamos de nós mesmas. Falamos também sobre a importância de estar lidando com o comportamento de uma criança e da mãe que quer punir. Muitas vezes esse comportamento é de uma criança que está chamando a atenção para ser ouvida.

O apoio da família e dos amigos é essencial, nesse sentido. Eles podem oferecer suporte emocional, ajuda prática e um sentimento de comunidade. Outro ponto importante são os grupos de apoio e comunidades online. As mães conseguem encontram conforto e orientação em comunidades e uma rede de apoio para compartilhar experiências e obter conselhos. Isso me motivou a criar o grupo MAM- Mãe que ajudam mães .

Desejo que todas as mães possam se priorizar e criar filhos mais inteiros emocionalmente, sem ter que sofrer para isso.


*Mônica Cereser é especialista em psiquiatria de crianças, adolescentes e adultos há 30 anos. Formada em Medicina com especialização em psiquiatria geral na Santa Casa de São Paulo e em psiquiatria da infância e adolescência no Hospital das Clínicas da USP. É autora do guia “Se eu soubesse” e coautora de mais 4 livros.

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