NotJournal perde perfil de 230 mil seguidores sem justificativa

by Amarildo Castro

NotJournal perde perfil de 230 mil seguidores sem justificativa

       A derrubada completa da perfil do Not Journal no Instagram, que reunia mais de 230 mil seguidores, acendeu um alerta nos bastidores da mídia digital. A conta foi desativada pela Meta na madrugada de domingo, com uma mensagem automática informando decisão “irreversível”, sem aviso prévio, sem explicação detalhada e sem possibilidade de recurso humano. O episódio ocorreu poucos dias depois de outra medida aplicada à mesma página: a remoção de um post que tratava da trajetória de Fabiano Zettel, referência no mercado de wellness, em razão de um pedido de copyright apresentado à plataforma. A sequência chamou atenção porque a primeira remoção, baseada na alegação de direitos autorais sobre uma imagem, foi seguida pela desativação total da conta em um intervalo de quatro dias. Após o bloqueio, uma pessoa ligada à Meta informou ao NotJournal que o perfil havia sido alvo de “denúncias em massa”, mecanismo frequentemente associado a ataques coordenados capazes de derrubar conteúdos sem contraditório. A combinação desses fatores levantou questionamentos entre jornalistas e analistas sobre a fragilidade das regras de moderação aplicadas a veículos críticos.

       Para Bruno Richards, editor-chefe do NotJournal, o eixo central da preocupação não é apontar culpados, mas questionar o mecanismo que possibilita esse tipo de desfecho. “O timing foi, no mínimo, estranho. Nossa publicação caiu após um pedido de direito autoral feito pelo próprio empresário citado, e quatro dias depois a página inteira foi desativada. Conversamos com todas as partes envolvidas, e elas negaram qualquer participação, o que registramos com naturalidade. O ponto não é pessoalizar o caso, e sim entender como um veículo pode perder tudo o que construiu com base em denúncias em massa, sem transparência e sem possibilidade de defesa. Se você incomoda, você pode ser tirado do ar. Isso cria uma força neutralizadora que faz qualquer um pensar duas vezes antes de publicar uma informação relevante.” Richards acrescenta que o NotJournal recebeu relatos de que ataques coordenados teriam ocorrido, mas reforça que o objetivo da pauta não é acusar indivíduos, e sim expor o risco estrutural. “A mídia precisa se unir. Hoje acontece com um, amanhã pode acontecer com outro”.

       O episódio tem repercussão mais ampla porque atinge diretamente um veículo que cresceu publicando reportagens baseadas em apuração factual sobre temas sensíveis, incluindo bastidores de mercado financeiro, política e comportamento corporativo. A publicação removida antes da queda final tratava justamente do avanço do mercado de wellness e do posicionamento de Fabiano Zettel, figura presente na Faria Lima e alvo recente de diversas reportagens em grandes veículos como Folha e Metrópoles. Bruno afirma que o NotJournal não tratou a pauta como ataque pessoal e reforça que a matéria estava dentro do padrão editorial. O problema, segundo ele, é que a combinação entre pedidos de copyright, denúncias em massa e decisões automatizadas cria uma vulnerabilidade evidente para redações menores. Basta um mecanismo ser acionado de forma estratégica para comprometer uma operação inteira, independentemente da qualidade ou veracidade do conteúdo. Em um ambiente em que plataformas concentram a distribuição de notícias, o risco de silenciamento indireto cresce, especialmente quando não há transparência sobre critérios de derrubada.

       A repercussão interna no mercado de mídia reforça a urgência de discutir mecanismos de proteção para veículos independentes e jornalistas que operam dentro das plataformas. Com o processo ainda sendo analisado pela equipe da Meta nos Estados Unidos e sem garantias de reversão, cresce a percepção de que decisões automatizadas podem impactar diretamente o ecossistema informativo do país. Richards afirma que segue publicando e investigando com a mesma linha editorial, mas reconhece que o caso expôs um ponto crítico: a ausência de salvaguardas para impedir que denúncias em massa, pedidos de copyright ou ataques coordenados sejam usados para retirar conteúdos relevantes do ar, mesmo que temporariamente. “Se nosso perfil não voltar, não é uma derrota do NotJournal, é uma derrota do mercado inteiro”, afirma. Para jornalistas, analistas e criadores, o episódio reforça um consenso incômodo: enquanto a distribuição de notícias depender de ambientes opacos e algoritmos não auditáveis, qualquer voz crítica estará vulnerável a silenciamentos sem explicação.

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