Parque do Guará sofre com invasões, depredação e abandono

by Amarildo Castro
  • Unidade de conservação, que é dividida entre as Áreas 27, 28 e 29, além da Reserva Biológica está em estado precário e praticamente não há investimentos para recuperação da área
  • Constantes queimadas, que mesmo em período de chuvas, o ‘rescaldo’ do fogo dos meses secos ainda permanecem no local em meio à folhagem verde, destruída há meses

POR AMARILDO CASTRO

Considerado como sendo uma área nobre no Guará para a conservação ambiental da fauna e flora, e que ao menos em teoria, não poderia ser destruído por moradores, invasores ou qualquer outra pessoa ou elemento estranho à natureza do local, o Parque Ezechias Heringer passa por um momento bastante delicado, e hoje, destruição, invasões, erosões e falta de um plano de manejo (em prática) deixa a reserva em situação bastante vulnerável.

Cerca do parque, na altura da Candangolândia foi quase toda furtada

Não bastassem as queimadas que assolam o local em todos os períodos de seca, o Parque do Guará tem hoje invasões, risco de ceder espaço para a especulação imobiliária, como aconteceu com a Área 28 A, que após acordo com o governo, foi vendida para a iniciativa privada para a construção de um grande empreendimento.

Não bastasse, o Parque do Guará ‘convive’ com muitos outros desafios, muitos deles de difícil solução.
A área, que compreende um cinturão verde, que vai desde a ligação com a Candangolândia até o SCIA, Setor Complementar de Indústria e Abastecimento, tendo como referência o Córrego Guará, sofre com todo tipo de agressão, seja na sua fauna ou flora, ou ainda nos mananciais.

Antiga administração do Parque do Guará: proposta era usar espaço para projetos de educação ambiental para alunos da rede pública, mas nada seguiu em frente e hoje construção está abandonada

Para se ter uma ideia, durante a pandemia coronavírus, uma grande rede de esgoto estourou na altura da passagem do Metrô-DF dentro do parque, e o esgoto sem tratamento jorrou no Córrego Guará durante quase uma semana, matando tudo que estava dentro da água e até às margens do riacho, sem que ninguém tenha sido punido por isso.

Trilhas abertas na Área 27 mostram que invasões continuam ativas

Invasões voltam

As invasões, que foram retiradas em 2017, agora continuam e a todo vapor. Até mesmo em locais considerados mais nobres e de grande visibilidade, como as proximidades do Colégio e Fauculdades Projeção, a situação chama atenção, com uma invasão que já dura quase um ano, sem que ninguém tome qualquer tipo de providência. Chacareiros, gargalo antigo, também estão de volta.

Para o ambientalista Robson Majus, um dos mais respeitados no Guará, os Parques e Unidades de Conservação do DF continuam perdendo para o abandono, o desconhecimento dos seus objetivos de conservação e preservação pela falta da execução da implementação da politica distrital de educação ambiental e também da falta de um Plano de Desenvolvimento Sustentável sério, efetivo e incluindo aí da falta de programa habitacional que dê conta de frear a especulação imobiliária.

Resultado de uma queimada na Área 28, que aconteceu em 13 de setembro de 2022: árvores continuam secas mesmo no período de chuvas

“O Parque Ecológico Ezechias Heringer não tem hoje o devido cuidado, o que era para melhorar a qualidade de vida da população não só adjacente, mas de todo DF, acaba se tornando uma ameaça. O PEEH não só a área ao lado do prédio da administração, onde ficam o estacionamento, o playground infantil, a quadra de areia e o circuito pavimentado de caminhada – ele vai muito além disso – onde existe considerável biodiversidade em meio a áreas degradadas a serem recuperadas, novas invasões a serem removidas, cercas a serem repostas por causa do vandalismo e furto, por falta também de fiscalização e monitoramento em todo sua área, que passa dos 300ha”, relata.

Outdoors, que por lei são proibidos de instalação dentro do parque aparecem às margens da EPGu e ficam dentro da reserva. foram retirados em 2014, mas retornaram

Outro problema está na área de convivência entre moradores. No mirante do parque, desde a implantação de uma nova sede, a antiga virou ‘sucata’, e não deu lugar a projetos ambientais para alunos, como previu o Ibram há 10 anos.

Liderança defende volta da participação comunitária

Uma das lideranças mais atuantes pela implantação definitiva e conservação do Parque Ecológico do Guará, o morador local Jeferson Maximino, o atual momento do Ezechias Heringer é de depredação e sucateamento de a equipamentos públicos.

Maximino: “Não desisti da minha luta pelo parque”

“Eu, ao lado de outras lideranças locais, entre 2010 e 2015 lutamos muito por esse parque, fizemos dezenas de reuniões com o governo para discutir o parque e cobrar melhorias. A coisa nunca funcionou 100 por cento, mas ao menos no passado o governo ouvia as pessoas, e o que acontece agora é que o governo não ouve mais as pessoas, também não faz o que precisa ser feito, e assim o parque chegou a essa situação”, relata.

Jeferson diz que fica muito triste ao constatar que as invasões dentro do Parque do Guará estão voltando e não há uma ação contra essas invasões. “Eu, quando me foi pedido um depoimento sobre a situação do parque, fiz questão de ir no local para constatar de perto tudo o que está acontecendo com nosso parque, e só vi coisa errada, o parque está bastante destruído”, afirmou.

Móveis velhos encontrados dentro do parque: desprezo

Jeferson disse que nos últimos anos passou por alguns problemas de saúde, mas que está de volta para ajudar o parque. “Quero participar do COMDEMA, e assim, voltar a dar minha colaboração pelo meio ambiente”.

Na opinião de Jeferson, o engajamento da comunidade da defesa do parque faz toda a diferença e pode resultar em muitas melhorias.

Moradores tentam criar a COMDEMA

No último dia 15, houve uma reunião entre moradores na Administração do Guará para escolha da ala de representantes da comunidade para mandado inicial provisório para formação da Comissão de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA, A Comissão de Defesa do Meio Ambiente – COMDEMA é um órgão colegiado, consultivo e deliberativo, formado por representantes de órgãos governamentais e de entidades representativas da sociedade civil organizada, para discutir e propor normas, planos, programas e ações relativos à proteção do meio ambiente e ao uso sustentável dos recursos naturais, bem como deliberar sobre a aprovação de todo e qualquer projeto que envolva decisão ambiental. Está vinculado à Secretaria de Meio Ambiente. O Conselho foi criado pela Lei N° 041/89 e regulamentadas pelo Decreto n⁰. 12.960 de 28-12-1990.

Novo presidente do Ibram diz que ainda toma ‘par’ da situação e disponibiliza seu número de celula

O novo presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o ex-deputado Roney Nemer disse à reportagem que ainda está tomando conhecimento de toda a situação do Parque do Guará, mas desde já, disponibiliza para a comunidade o seu próprio número de celular, para denúncias e sugestões: (61) 999882535. Ele pede para que mandem mensagem de texto.

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