Tráfico de Animais Silvestres no Brasil: Uma Crise Silenciosa Amplificada por Influenciadores

Foto de Gustavo Figueiroa – Instituto Libio
O tráfico de animais silvestres no Brasil representa uma das maiores ameaças à biodiversidade nacional. Estima-se que cerca de 38 milhões de animais sejam retirados ilegalmente da natureza brasileira todos os anos, movimentando um mercado clandestino que gera lucros anuais entre 8 e 20 bilhões de euros. Em 2024, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apreendeu mais de 22 mil animais silvestres, direcionados aos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) para reabilitação.
A situação é agravada pela atuação de influenciadores digitais que, ao exibir animais silvestres como animais de estimação em suas redes sociais, são reservados para a normalização e incentivo dessa prática ilegal. Um exemplo emblemático é o caso da modelo Nicole Bahls, que teve dois macacos-prego, Davi e Mical, apreendidos pela Polícia Federal e pelo Ibama em janeiro de 2023.

Os animais foram adquiridos com documentos falsificados, e a apreensão deu início à Operação Defaunação, que resultou na prisão de três pessoas envolvidas em um esquema de tráfico de animais silvestres.
Outro caso que ganhou destaque foi o do influenciador Agenor Tupinambá, conhecido por compartilhar sua rotina com o capivara Filó nas redes sociais. Apesar de alegar que o animal vivia em seu habitat natural, Tupinambá foi multado pelo Ibama por manter um animal silvestre sem autorização e por exploração indevida.

Após apreensão, os macacos Davi e Mical foram encaminhados ao Instituto Libio, localizado no interior de São Paulo. A instituição, em parceria com o Ibama, realiza um trabalho exemplar na conservação da fauna brasileira, acolhendo e cuidando de animais silvestres vítimas do tráfico e maus-tratos. A presidente do Instituto Libio, Raquel Machado, destacou: “Davi e Mical chegaram ao Instituto em estado de alerta e desconfiança, características comuns em animais que passaram por situações traumáticas. Nosso compromisso é proporcionar a eles uma vida digna, mesmo que em cativeiro, já que a reintrodução na natureza exige cuidados e investimentos significativos.”

O Instituto Libio também desenvolve ações de educação ambiental, promovendo a conscientização sobre a importância da vida silvestre e o respeito a cada ser vivo. A instituição administra reservas privadas no Mato Grosso do Sul, São Paulo e Pará, promove a conservação da fauna brasileira e de seus habitats.

É fundamental que a sociedade compreenda que animais silvestres não são animais de estimação e que sua posse ilegal contribui para a destruição de ecossistemas inteiros. A atuação de influenciadores digitais nesse contexto é preocupante, pois, ao exibir esses animais como companheiros domésticos, acaba incentivando práticas ilegais e prejudiciais à biodiversidade.

O combate ao tráfico de animais silvestres exige a colaboração de todos: autoridades, instituições de conservação, influenciadores e cidadãos. Somente com ações coordenadas e conscientização coletiva será possível preservar a rica fauna brasileira para as futuras gerações.

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