- Enquanto apenas 11 cadeiras na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul são ocupadas por mulheres e 55 ocupadas por homens, parlamentares se reúnem em painel e debatem a violência política contra mulheres.
“Para combatermos a violência, precisamos começar nos unindo. Só assim nós vamos conseguir enfrentar. Temos que refletir sobre nós mesmas: o que temos feito para mudar isso?”, destacou a deputada estadual Eliana Bayer (Republicanos), em painel da “UNR Global Conference”, conferência global que é organizada pela entidade argentina Parlamento & Fé.
“77% das mulheres em cargos de liderança sofrem com a síndrome de impostora, achando que não são capazes de estar no lugar em que estão”, declarou Paula Togni, empreendedora social e doutora em liderança transformadora, que também participou do painel.
Além delas, estiveram presentes Sandra Mendoza (Partido Democrata), senadora provincial da Argentina e advogada, Cristiane Lopes (União Brasil), deputada federal e jornalista e a delegada Cristiane Ramos.
Em sua explanação, Paula Togni declarou ainda que a “deputada Eliana (anfitriã do evento) é uma corajosa por trazer esses temas a debate”. Seguiu contando um caso em que se sentiu desprestigiada como mulher em sua profissão. “Sempre trabalhei fora, atendendo clientes e uma vez, em uma reunião, o diretor não olhou para minha cara nem um minuto se quer, só olhou para o meu colaborador, que era homem e recém havia sido contratado. Então, pergunto: quem não passou por uma situação nesse sentido ou ouviu uma piada que não precisava ter ouvido e se sentiu ofendida?”, relatou.
Já Cristiane Ramos trouxe ao evento o olhar de delegada, que acompanha diariamente casos de violência contra mulheres. “A violência contra a mulher é a mais democrática que existe, pois ela está em todas as classes sociais, em todas as igrejas, em todas as crenças. Temos mulheres que têm muito dinheiro e não conseguem sair de situações de agressão, é um problema sociocultural. Somos (Brasil) o quinto país que mais pratica violência contra mulher. Todos nós como sociedade temos um papel: em briga de marido e mulher se mete a colher sim, se vemos uma situação precisamos denunciar”, explicou.
Sandra Mendoza deixou seu depoimento como mulher e parlamentar para o debate: “notamos que nunca é um olhar de admiração a mulher, é sempre um olhar de crítica e julgamento para entender como ela chegou onde quer que ela tenha chegado. Na política, armam uma reunião entre deputados e não são chamadas as mulheres, as mulheres são excluídas, principalmente quando tem que tomar decisões, não querem escutar as mulheres, mas nós temos voz e voto e também temos que opinar.”
De acordo com Cristiane Ramos, “só teremos políticas para mulheres, quando elegermos mulheres, precisamos melhorar esse panorama, colocar mais mulheres nos cargos de representação.”
“Nós mulheres, falamos muito da violência contra as mulheres e muitas vezes esquecemos da violência que a mulher comete com outra mulher por não termos união. E vou além, quando queremos propor algo na câmara é muito difícil unir as 11 mulheres representantes”, destacou também Eliana Bayer.
Cristiane Lopes trouxe o contexto religioso e lembrou que a igreja também é contra a violência. “Meu pastor pegou o microfone e falou: se aqui na igreja algum homem estiver cometendo violência, crime contra alguma mulher, não venham me procurar em primeiro lugar, procure logo uma delegacia, a polícia e faça a denúncia”, concluiu.
Antes de finalizar o painel, Luciano Bogarra, presidente do Parlamento e Fé, deu sua palavra ao público presente dizendo que: “Temos que pensar menos em gênero e mais na capacidade. A mulher e o homem estão capacitados e tem total condições por suas capacidades. Acredito que as mulheres têm condições para serem até 100% da câmera.”
A deputada estadual e anfitriã do evento, Eliana Bayer, encerrou dizendo: “Sou mulher, cristã, mas acima de tudo defendo um estado laico, um estado democrático, onde eu possa respeitar e ser respeitada.”