
- A mostra A Luz da Pandemia chega a Curitiba no dia 13 de março e apresenta 15 telas inspiradas em relatos reais, transformando dor e resiliência em arte
A arte tem o poder de transformar, ressignificar e dar voz às histórias que, por vezes, se escondem nas entrelinhas da dor. É com esse propósito que a exposição À Luz da Pandemia, da artista catarinense Marcela Schmidt, chega a Curitiba no dia 13 de março, na Soma Galeria. Com 15 telas inspiradas em relatos reais, a mostra conduz o público por uma jornada visual e emocional sobre resiliência, perda e renascimento.
Uma dessas histórias é a da curitibana Vania Maria Stallbaum Villar, uma mulher que encontrou na corrida um caminho para a renovação e para lidar com a dor da perda. Sua jornada foi retratada em um dos quadros da exposição, trazendo à tona emoções profundas e significados marcantes.
Antes da pandemia, Vânia já tinha a corrida como parte de sua rotina. Ela descreve o esporte como um desafio natural, uma maneira de aliviar o estresse, controlar a ansiedade e melhorar o sono. No entanto, apesar de admirar provas mais desafiadoras, como trail running e ultramaratonas, nunca teve coragem de encarar essas competições de frente. O medo a impedia de dar esse passo.
A chegada da pandemia mudou tudo. Com a impossibilidade de correr ao ar livre e a restrição das atividades, Vânia adquiriu uma esteira, mas não se identificou com os treinos indoor. No entanto, a perda de seu pai para a Covid-19 a impactou. “Meu pai, que levava uma vida sedentária e sem preocupação com a saúde, teve sua condição agravada pela doença”, conta.
Essa experiência foi um marco para Vânia, que decidiu mudar sua própria trajetória: “Não posso passar pela vida sem realizar meus sonhos”. Determinada, ela passou a treinar com muito mais foco e disciplina, superando seus limites e enfrentando os desafios que antes temia.
Participou de provas exigentes, como a Ultra Maratona dos Perdidos e o UTMB Paraty, demonstrando uma força interior que antes não reconhecia. Cada conquista, cada medalha, tornou-se um símbolo de sua resiliência e do legado que queria construir para si mesma e para seus filhos.
A obra retrata esse caminho de superação de forma emocionante, simbolizando a conexão entre Vânia e seu pai. Nele, duas garças representam Vânia e seu pai. No peito de uma delas, estão suas medalhas mais importantes, aquelas que simbolizam não apenas vitórias em corridas, mas a conquista de sua própria confiança e força. A presença do pai, mesmo em outro plano, ainda a acompanha em cada desafio, em cada subida, em cada obstáculo superado.
Para Vania, a mensagem que o quadro transmite é clara: “Que as pessoas curtam seus pais, curtam quem amam, e que, diante das dificuldades, encontrem algo que as fortaleça”. A corrida, para ela, é uma metáfora da vida, cheia de desafios, quedas e vitórias, mas sempre com a possibilidade de seguir em frente.
Ao ver seu quadro na exposição, a emoção foi inevitável. “Me emociono toda vez que olho para ele”, conta Vania. O projeto de Marcela trouxe à tona não apenas sua história, mas também a compreensão profunda de sua própria jornada. “Foi um processo de cura”, diz a artista, que se recorda da emoção sentida no momento da entrevista e da revelação do quadro.
Histórias que inspiram
Entre as narrativas que ganham vida em cores e formas, está o de Eliane Schmidt Nunes. Durante o isolamento, enquanto enfrentava um tratamento de leucemia, Eliane viu sua casa se transformar em um refúgio de amor.
Seu marido, que antes enfrentava um vício em jogos, transformou sua rotina e dedicou-se a construir um jardim exuberante para que ela tivesse um espaço seguro e acolhedor para se recuperar. O flamboyant, plantado como símbolo desse recomeço, se tornou parte essencial da obra que retrata sua história.
Já Márcia Hedler Souza, que passou quase 60 dias entubada, enfrentou uma batalha intensa para reaprender a andar e recuperar sua independência. A artista a retratou como uma garça-fênix, resgatando sua força e renascimento. No primeiro dia de fisioterapia, Márcia desafiou sua própria recuperação ao pedir que, em uma semana, pudesse voltar a usar salto alto — e conseguiu.
Essas e outras histórias compõem um mosaico de emoções e renascimentos, refletindo a simbologia da garça, marca registrada de Marcela. Mais do que um evento artístico, A Luz da Pandemia é um convite à contemplação, à empatia e à valorização dos caminhos de cura que surgem mesmo nos momentos mais difíceis.
Serviço:
Data: 13 de março de 2025, às 19h
Local: Soma Galeria (R. Mal Jose B Bormann, 730 – Batel)
Entrada: Gratuita
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