De grupo de estudos da UnB à referência nacional: Fazenda Malunga completa 36 anos e acompanha expansão dos orgânicos

by Amarildo Castro

O setor de orgânicos vive um momento de crescimento expressivo no Brasil. De acordo com a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o mercado movimentou cerca de R$ 7 bilhões em 2023, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. O número reflete uma mudança significativa nos hábitos de consumo dos brasileiros, que têm valorizado cada vez mais práticas agrícolas sustentáveis, alimentos livres de agrotóxicos e com rastreabilidade garantida. A pesquisa também mostra que 64% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos orgânicos, principalmente pelos benefícios à saúde e ao meio ambiente.

Esse cenário positivo fortalece a trajetória de iniciativas pioneiras como a Fazenda Malunga, que completa 36 anos de atuação em 2025 como uma das principais referências em agricultura orgânica no país. Com aproximadamente 110 hectares de produção certificada no Distrito Federal, a propriedade cultiva hortaliças, legumes, além da produção de laticínios orgânicos A2A2. Os produtos abastecem feiras, supermercados, delivery e lojas próprias na capital federal.

O que poucos sabem é que a Malunga nasceu da inquietação de um grupo de estudantes da Universidade de Brasília (UnB), ainda nos anos 1980, com os impactos negativos da agricultura convencional. A preocupação com a alta carga de agrotóxicos, os riscos à saúde dos produtores e consumidores e a degradação ambiental levou à criação de um grupo de estudos sobre alternativas sustentáveis.

Foi nesse contexto que, em 1989, Joe Valle, então aluno de engenharia florestal, iniciou com colegas uma pequena produção orgânica na chácara de seu pai, no PAD-DF. Os alimentos eram vendidos em frente à UnB, gesto simbólico de reconectar universidade, pesquisa e prática agrícola. A experiência cresceu, se profissionalizou e hoje representa um modelo de negócio sustentável e inovador.

Além da produção, a fazenda atua como centro de formação, promovendo visitas guiadas, palestras e intercâmbios com estudantes, pesquisadores e profissionais do setor. Técnicas como adubação verde, uso de remineralizadores de solo e aplicação de microrganismos são adotadas com o objetivo de fortalecer a microbiologia do solo, reduzir a dependência de insumos externos e manter a biodiversidade.

Para Joe Valle, celebrar 36 anos é reafirmar o propósito que motivou o início da Malunga. “A fazenda nasceu do desejo de produzir alimentos saudáveis sem agredir o meio ambiente. Mais do que uma propriedade rural, a Malunga é um organismo vivo que cultiva conhecimento, saúde e relações humanas sustentáveis”, afirma.

Com mais de três décadas de história, a Malunga segue como um dos principais exemplos de que é possível unir produtividade, responsabilidade socioambiental e geração de renda no campo, e que mudanças profundas podem, sim, começar dentro da universidade.

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