Segunda-feira, 7h30 da manhã e eu voltava para casa “arrastada”. Tinha acabado de sair de uma aula de ginástica funcional, que – tenho certeza disso – foi inspirada na Daiane dos Santos, dançando Brasileirinho, em velocidade acelerada. Enquanto, descabelada, ofegante e vermelha como um pimentão, eu reunia todas as forças do meu corpo, para fazer o percurso de 1 km a pé, pensava: por que raios estou me torturando dessa forma? Por alguma razão, Charles Darwin veio a minha mente. Se você não conhece esse camarada, ele é o gênio que escreveu a teoria da evolução das espécies, explicando que “somos parentes dos macacos”. Louco, né? Mas, a “loucura” maior ainda está por vir… Pensando em Darwin, logo imaginei os “nossos parentes” na selva, pulando de galho em galho, como em um exercício de paralelas assimétricas, da ginástica olímpica. Ter preparo físico e um bocado de força, sem dúvidas, é definitivo para a sobrevivência deles. O mesmo raciocínio veio, com relação a todos os nossos ancestrais humanos, que habitaram esse planeta, antes das casas de tijolos e das extensas plantações existirem. Você, que está aí, do outro lado da tela, já parou para pensar que, 100 mil anos atrás, ter forças para abater um javali ou velocidade para fugir dele separava a vida da morte? Preguiça era um luxo inexistente… ou fatal. Nossos ancestrais já acordavam se exercitando, para sobreviverem: corrida freestyle, para fugir de um predador. Esgrima roots, para emboscar um animal. Halterofilismo, para carregar a presa abatida. Escalada na montanha, para buscar de um abrigo seguro. Polo aquático, para pescar. Caminhada, para encontrar água. Misericórdia! Movimentar o corpo era a regra daqueles que vieram antes de nós. De TODOS. Não é à toa que esse corpo bípede é cheio de “dobradiças”. Já reparou, caríssimo leitor, que até o seu dedo mindinho do pé direito se mexe em direções diferentes? Suspeito existir um motivo óbvio para isso: a necessidade do movimento (eu sei que você tentou mexer o dedo mindinho do pé direito, enquanto lê este texto). Hoje, não precisamos mais caçar um javali ou fugir dele, mas, o nosso corpitcho ainda não sacou isso – ele precisa se sacudir e funciona melhor como movimento. Então, AHÁ! Aí, entra a academia na nossa vida, para preencher essa lacuna. Confesso que, chegar a essa conclusão até colocou um sorriso de alívio no meu rosto! É melhor suar na ginástica do que fugindo de uma onça. Como a gente reclama à toa, não é mesmo? Enquanto sorria aliviada, no meu trajeto a pé, pensei no meu cachorro que tinha ficado em casa, enquanto eu estava na academia, suando bicas, movimentando descoordenadamente todos os músculos que conseguia… Os ancestrais dele também evoluíram caçando a própria comida, andando quilômetros a procura de água, fugindo de predadores, buscando abrigo. O seu corpinho quadrúpede também é todo articulado – até o dedo mindinho. Meu cachorro, assim como eu, também precisa de exercitar o corpo para ser saudável, ora bolas. Nem é preciso ter estudado 5 anos em uma faculdade de veterinária para concluir algo tão óbvio! Cheguei em casa cansada, descabelada, vermelha como um pimentão e pensativa. Coloquei a coleira em meu cachorro e fomos andar na rua. Batemos perna por quase uma hora. O bichinho voltou para casa relaxado e passou o resto do dia tranquilão! Eu também. Atividade física, agora, faz parte da rotina dele – e da minha. Que bom que a comida vem com um clique no celular, que nenhum leão vai nos emboscar na esquina e que o exercício físico é uma opção consciente em nossas vidas. Li um estudo (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7174309/) recentemente que explicava como exercitar o corpo é importante para o bom funcionamento do cérebro. Talvez, a minha epifania pós-ginástica seja uma evidência disso! Essa é a história meio maluca de como um treino pesado na academia exercitou a minha cabeça e melhorou a vida do meu cachorro. — Camilli Chamone é pós-graduada em Genética e Biologia Molecular e foi professora universitária federal de Biologia Celular, Genética e Evolução, dando aulas para vários profissionais da área da Saúde. Criou cães da raça buldogue francês, foi membro efetivo do Conselho Disciplinar do Kennel Clube de Belo Horizonte e foi Diretora da Federação Mineira de Cinofilia. Editora de todas as mídias sociais “Seu Buldogue Francês” e autora do livro “Genética da Pelagem em Cães”, traduzido para a língua inglesa e espanhola. Justamente por essa formação e experiências, ela criou a metodologia em neurociência aplicada ao comportamento canino, isenta de punições. |
(Foto: Bento e Camilli Chamone – Divulgação) |
Deixe uma resposta