55ª edição do FBCB exibiu 18 filmes, além das mostras paralelas Texto: Jamile Rodrigues, Lúcio Flávio e Sâmea Andrade. Fotos: Hugo Lira e Marina Gadelha. Edição: Déborah Gouthier/Ascom Secec Foram seis dias de sala lotada no Cine Brasília. Ao todo, 18 obras apresentadas, entre longas e curtas-metragens, com sessões também no Complexo Cultural de Samambaia e Complexo Cultural de Planaltina. No sábado, 19 de novembro, os últimos filmes da Mostra Competitiva Nacional do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB) de 2022 foram exibidos, e ainda neste domingo (20), o público conhecerá os grandes vencedores da 55ª edição do evento, realizado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec) com a organização da sociedade civil Amigos do Futuro. E, como era de se esperar, a última noite da Competitiva Nacional trouxe a cereja do bolo. Tendo como linha condutora a epopeia em busca de indígenas perdidos no coração da Floresta Amazônica, o documentário A Invenção do Outro, de Bruno Jorge, arrebatou o público que seguiu hipnotizado com o trabalho de antropologia visual, como definiu o diretor. O filme é uma obra impactante sobre um Brasil profundo e invisível aos olhos das grandes massas, mas com cenas e narrativas que resvalam no inconsciente popular por conta da figura do indigenista Bruno Pereira, brutalmente assassinado junto com o jornalista britânico Dom Phillips em junho deste ano. Bruno, inclusive, protagoniza a trama, junto com Xuxu, da etnia Korubos, distanciado da família e em conflito com povos adversários da região. Nas telas, o registro de uma expedição da Funai, conhecida como a maior das últimas décadas, realizada em 2019 na fronteira da Amazônia peruana para tentar o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubos. “A gente ficou muito tempo em um ambiente fechado, no estúdio, e exibir o filme nessa sala incrível, compartilhando esse momento com a experiência de tantas vidas, é incrível”, disse Bruno Palazzo, que assina a trilha sonora do filme. “O desafio foi de como desenhar a música do filme com o som e a imagem que ele conseguiu captar”, explicou. Também enveredando pela temática indígena, a gaúcha Paola Mallmann abriu a sessão da noite com o curta Um Tempo Para Mim, que narra a trajetória de Florência, uma menina mbyá guarani que vive um rito de passagem: a primeira menstruação. “É um trabalho fruto de muitos sonhos e que também é o papel da arte de transver outras realidades”, disse a diretora. “O filme trata de um tema muito feminino e íntimo que pertence a todo um ciclo da vida”, observou. Lugar de Ladson, do paulistano Rogério Borges, percorre a trajetória do personagem-título, um jovem cego que busca seu lugar na sociedade, ao mesmo tempo em que tenta, com a ajuda do celular, marcar seu primeiro encontro amoroso. “Esse filme traz uma pesquisa visual interessante, algumas dessas informações trazidas pelos próprios personagens”, notou o diretor de fotografia, Yuji Kodato. ALÉM DA COMPETIÇÃO Outro ponto alto deste sábado (19), penúltimo dia de FBCB, foi a realização da mostra Festival dos Festivais. Idealizada para prestigiar filmes que fizeram uma carreira exitosa nos festivais Brasil afora, a mostra trouxe três trabalhos surpreendentes. O primeiro deles foi o drama familiar A Filha do Palhaço, oitavo longa-metragem do cearense Pedro Diógenes, que fala sobre a relação de aproximação entre pai e filha. Premiado nos festivais do Rio e de Tiradentes, o filme debruça sobre questões pertinentes como a luta pela afirmação de gêneros e a reconstrução de afetos destruídos. Já a comédia Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre, narra a trajetória de três personagens à margem do sistema, lutando pelo pão nosso de cada dia, como o périplo de conseguir pagar o aluguel de uma quitinete em uma São Paulo surrealista aplacada pela pandemia. Destaque para a cena neotropicalista com a participação do veterano ator paraibano Everaldo Pontes. Grande sensação da mostra e uma das pérolas desta edição do FBCB, o drama Fogaréu, de Adriana Neves, traz à tona uma realidade de pesadelo e terror ambientada no interior de Goiás. Flertando com o fantástico, o filme reflete sobre a herança do período colonial na região e a avassaladora interferência do agronegócio nos dias atuais. Protagonista do filme, a atriz mineira Barbara Colen, que também encantou o público do Festival de Brasília como uma das apresentadoras do evento, falou sobre a intrincada relação de casa-grande e senzala que perpassa a trama, a partir da ótica de personagens afetados por algum tipo de deficiência neurológica. “É uma outra maneira de ver o mundo, ou seja, falar desses corpos invisíveis”, resumiu. No sábado e no domingo, as crianças também foram contempladas pelo Festival e receberam uma programação pensada especialmente para elas no Festivalzinho, já muito aguardado pelos fãs do FBCB. A curadoria dos filmes foi uma parceria com o Festival de Cinema Infantil de Florianópolis, que selecionou 14 obras ao todo, entre ficções e animações. Para abrir a programação, palhaçaria para conquistar a atenção da criançada. ENCONTROS E DEBATES Filmes que falam sobre afetos e da “solidão das pessoas dessas capitais”, como já dizia o bardo cearense Belchior. Norteados por essa premissa, os realizadores e equipe dos dois curtas-metragens e do longa da Mostra Competitiva exibidos na noite de sexta-feira (18) interagiram com os participantes em debate ocorrido na manhã do sábado (19), no Hotel Grand Mercure. Diretor do divertido e provocativo Capuchinhos, Victor Laet mais uma vez arrancou gargalhadas dos presentes com seu humor ingênuo, mas ferino, ao explicar o processo de criação do seu filme, que flerta com o experimentalismo e o absurdo. “Fazer o filme foi um processo catártico e metamórfico, depois de um marasmo emocional e espiritual com tanta coisa ruim que estava acontecendo no Brasil”, confidenciou. “O filme é uma provocação mesmo, de que dá para construir histórias, desconstruindo tudo”, disse, explicando o curta. Exaltando o coletivo Mangaba, grupo de realizadoras do audiovisual da Paraíba formado por mulheres com projetos focados no universo feminino, a diretora Mayara Valentim, de Nem o mar tem tanta água, falou do desafio de registrar a delicadeza do real, sem cair no tosco. Ela ainda destrinchou com poesia uma das cenas mais belas exibidas nesta edição do FBCB, em que a atriz Laís de Oyá se banha com um regador, num jardim de Éden em quintal suburbano da cidade paraibana de Cabedelo. “Me tocou muito ver a cena, fiquei emocionada porque é o meu corpo, emprestado ou não, que está ali, se confundindo com as plantas”, disse a atriz, que tem aqui sua primeira atuação como protagonista. “O filme é isso, nasce dessa complexidade e beleza da realidade de uma cidade portuária”, resumiu a diretora. SERVIÇO: 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro De 14 a 20 de setembro Local: Cine Brasília Confira a programação completa em: https://festcinebrasilia.com.br/programacao/ Texto e fotos: colaboração de Sistema PR Comuniquese |
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