Goiânia registra queda preocupante no índice de leitura e apresenta pior desempenho entre as capitais brasileiras

by Amarildo Castro
  • Com apenas 40% da população considerada leitora, a capital goiana ocupa a última posição no ranking nacional; especialistas apontam urgência de políticas públicas estruturantes

Goiânia tem hoje o pior índice de leitura do Brasil entre todas as capitais. De acordo com a 6ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada em novembro de 2024, apenas 40% dos moradores da capital com mais de cinco anos afirmam ter lido ao menos parte de um livro nos três meses anteriores à pesquisa. Embora o estado de Goiás registre 52% da população leitora — um número próximo da média nacional (47%) —, o destaque negativo recai sobre a capital, que ocupa a lanterna do ranking nacional.

O levantamento foi realizado entre abril e julho de 2024, com base em entrevistas em 208 municípios brasileiros, incluindo cidades de médio e grande porte em Goiás. A pesquisa considera leitor quem leu, por inteiro ou em parte, um livro — impresso ou digital — no período de três meses anteriores à entrevista.

A retração no hábito de leitura é um caráter nacional, ganha mas contornos específicos no Centro-Oeste. Em Goiás, o acesso à educação básica avançou nas últimas décadas, mas não foi acompanhado de ações estruturadas para formação de leitores. O que se observa, segundo especialistas, é uma desconexão entre escolarização formal e incentivo à leitura enquanto prática cultural cotidiana.

Para o professor e linguista Carlos André Pereira Nunes, o cenário goiano expõe a negligência com a leitura como direito social. “É sintomático que uma capital como Goiânia, com tanto potencial acadêmico e cultural, esteja no fim da lista. O problema não é só estrutural — é também simbólico. O livro deixou de ser visto como ferramenta de mobilidade, de cidadania, de pensamento crítico. E isso cobra um preço alto.”

Em Goiânia, cidade com centros universitários de referência e uma cena literária vibrante, o dado de 40% surpreendente e preocupante. A capital, que abriga editoras, festivais e iniciativas independentes de promoção da leitura, sofre com a falta de bibliotecas públicas acessíveis e de políticas permanentes de incentivo ao livro nas escolas e comunidades.

Carlos André, que é cofundador e diretor do Instituto Carlos André, a maior instituição de ensino especializado em português e redação para vestibulares e concursos públicos da região Centro‑Oeste, e consultoria em comunicação de alta performance para empresas, com mais de 30 mil alunos aprovados e mais de 40 empresas atendidas no Estado de Goiás, ressalta que um leitor de crise afeta diretamente a qualidade da democracia. “Sem leitura, o cidadão perde a capacidade de interpretar, questionar, imaginar alternativas. Em um Estado como Goiás, onde a política e o discurso público têm ganhado complexidade, é fundamental que uma população esteja equipada para compreender, avaliar e escolher com consciência.”

A pesquisa também mostra que a leitura na escola perdeu força. Apenas 19% dos entrevistados afirmaram ter sido motivados a ler no ambiente escolar. Em contrapartida, 85% dizem ler em casa, de forma autônoma. Essa fragilidade no papel das instituições de ensino é considerada crítica regional pelos especialistas, especialmente em onde o livro ainda depende do incentivo escolar para entrar na vida do aluno.

Outro dado relevante é o impacto das redes sociais. Em Goiás, como no resto do país, as plataformas digitais tomaram o lugar da leitura tradicional. Vídeos curtos, conteúdos fragmentados e rolagens infinitas competem diretamente com a concentração necessária à leitura de um livro.

Segundo Carlos André, é preciso enfrentar o problema com seriedade e visão de longo prazo. “Não se trata apenas de campanhas pontuais. Goiás precisa de um pacto estadual pela leitura, com investimento em bibliotecas, formação de professores leitores, parcerias com o setor privado e criação de redes literárias que envolvam bairros, escolas, universidades e espaços culturais.”

A diferença entre a capital e outras regiões do Estado também merece atenção. Enquanto Goiânia registra apenas 40% de leitores, cidades do interior como Anápolis, Jataí e Rio Verde apresentam índices mais próximos da média estadual, embora careçam de dados desagregados na pesquisa nacional.

A situação de Goiás reforça a urgência de políticas públicas regionais com foco em leitura, literatura e democratização do acesso ao livro. Para os especialistas, é preciso que o Estado assuma o livro como equipamento básico de cidadania, tanto quanto uma escola, um hospital ou uma estrada.

“Não podemos naturalizar a ausência do livro na vida das pessoas”, conclui Carlos André. “Um Estado que lê pouco pensa pouco. E um povo que pensa pouco, infelizmente, escolhe mal, reage mal e se torna presa fácil para discursos prontos. O desafio de Goiás é urgente: reconquistar a leitura como bem público e como prática de liberdade.”

INSTITUTO CARLOS ANDRÉ – CONCURSOS, VESTIBULARES E COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

Com mais de 24 anos de experiência, o professor Carlos André Pereira Nunes é cofundador e diretor do Instituto Carlos André, a maior instituição de ensino especializado em português e redação para vestibulares e concursos públicos da região Centro‑Oeste, e consultoria em comunicação de alta performance para empresas, com mais de 30 mil alunos aprovados e mais de 40 empresas atendidas no Estado de Goiás. Antes de fundar o Instituto Carlos André, atuou como docente nos principais colégios e cursos preparatórios de Goiás e do Distrito Federal. A partir de 2010, passou a atuar também como mentor em comunicação de alta performance em grandes empresas do Estado de Goiás e no Distrito Federal. É professor das Escolas Superiores de Magistratura e da Advocacia e preside a Comissão Nacional de Direito, Linguagem e Literatura da OAB Nacional, onde liderou a modernização da linguagem jurídica no Brasil. É professor de Comunicação de Alta Performance no IPOG. É advogado e linguista de referência nacional em comunicação jurídica e redação jurídica, e preside a Comissão Nacional de Direito, Linguagem e Literatura da OAB Nacional, onde liderou projetos voltados à modernização da linguagem no Brasil.

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