Importação ilegal das Girafas de Mangaratiba completa um ano e segue sem solução

Os animais selvagens foram capturados na África do Sul para serem comercializados no Brasil

Dia 11 de novembro fez um ano que 18 girafas selvagens foram trazidas da África do Sul para o Brasil em um processo de importação altamente questionável, autorizado pelo IBAMA. Sob o argumento falacioso de um projeto conservacionista que não se sustenta. O responsável pela importação foi o BioParque Zoo, uma das empresas do poderoso grupo Cataratas.

O destino dos animais, que foi decidido apenas poucos dias antes da chegada ao Brasil, foi o Portobello Resort & Safari, um espaço luxuoso, frequentado por turistas, celebridades e pessoas de classe social alta, na cidade de Mangaratiba (RJ).

Em dezembro de 2021, um mês após a chegada, seis girafas fugiram por uma das cercas, foram capturadas, mas três morreram em seguida. Após autópsia constatou-se a presença de substâncias associadas a estresse profundo nos animais.

O Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, em parceria com outras entidades similares, ajuizou diversos processos e recursos na esfera cível e criminal, e seguem na luta para que essas girafas sejam libertadas da exploração e dos maus tratos constantes a que estão submetidas desde a captura na natureza e vendidas como mercadorias ao BioParque.

Entenda o casoApós o episódio da fuga e morte das girafas, denúncias chegaram até as autoridades, e com isso, em uma operação, o IBAMA e PF realizou o flagrante do crime de maus tratos a animais, que culminou na prisão de dois funcionários do BIOPARQUE, na apreensão dos animais, aplicação de diversas multas e o início de uma investigação que concluiria que esse seria o maior caso de tráfico de animais retirados de vida selvagem que se tem notícia.

Dentre as diversas ilegalidades e irregularidades, podemos apontar: ausência de recintos adequados para recebimento dos animais, animais machucados, microchipagem inconsistente, importação de animais de vida livre, projeto conservacionista sem lastro, falsidade nos relatórios dos fiscais do INEA e IBAMA que autorizaram a importação. São mais de 2 mil páginas de documentos da PF e IBAMA comprovando os absurdos ocorridos. Da conclusão da investigação da PF, 4 pessoas foram indiciadas, sendo dois funcionários do BioParque, um do INEA e um do IBAMA.

Desde a chegada as dependências do resort, as girafas são mantidas em cubículos de concreto, sem acesso a luz solar, em local insalubre, onde cada 3 indivíduos ocupam 31 m² e além de tudo, passaram por um processo de “DOMA’ para que elas possam aceitar o contato com humanos e assim virarem atração nos parques zoológicos.

Todo o conjunto probatório comprova que o objetivo do BioParque em trazer os animais para o Brasil, foi meramente comercial. O plano seria usar o hotel de Mangaratiba como um “entreposto” para armazenamento e depois a distribuição dos animais pelo país. Porém, a fuga e morte dos animais, acabou atrapalhando o plano inicial, jogando luz a situação.

Em razão da violação do direito desses animais, onde suas dignidades estavam claramente violadas, o FNPDA em parceria com outras associações de defesa dos animais, ajuizou diversas ações nas esferas cível e criminal, na justiça estadual e federa. Todas as ações com o objetivo, de que tais abusos fossem cessados. Apesar de obter liminar assegurando que as girafas deveriam sair da clausura em 48 horas, sob pena de aplicação de multa de 5 mil reais por dia, a decisão que é de fevereiro de 2022, nunca foi cumprida e a multa que já ultrapassaria 1 milhão de reais jamais foi aplicada.

Com as ações judiciais, pressão da sociedade, da mídia e a atuação da PF e IBAMA, o BIOPARQUE se viu obrigado a fazer o mínimo pelas girafas, e hoje elas contam ao menos, com algumas horas ao ar livre, mesmo sendo um ambiente totalmente inóspito, cercado com madeiras verdes para simular a natureza. O que é algo extremamente cruel e deprimente para quem nasceu livre nas savanas africanas.

 “As girafas sofrem maus-tratos constantes e não podemos normalizar tal situação. São 18 vidas arrancadas da natureza, trancafiadas em caixotes e vendidas como se fossem mercadorias, em meio a um processo de importação ilegal e imoral” dia Ana Paula Vasconcelos, Diretora Executiva do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal.

Foto e texto: colaboração de Valle da Mídia Assessoria de Imprensa 

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