- Estudo indica que 89% dos líderes de RH esperam impacto direto da IA nos empregos até 2026; Rafael Irio defende o letramento em IA como eixo da adaptação profissional
A inteligência artificial deve exercer influência crescente sobre o mercado de trabalho já no próximo ano, alterando a organização das funções, os critérios de contratação e a dinâmica das relações profissionais. Mais do que substituir atividades isoladas, a tecnologia passa a interferir na lógica estrutural do emprego, exigindo novos repertórios de competências e reconfigurando a forma como empresas e trabalhadores se posicionam diante das transformações produtivas.
Uma nova pesquisa do CNBC Workforce Executive Council indica que essa aceleração deve se tornar mais evidente a partir de 2026. De acordo com o levantamento, 89% dos líderes de Recursos Humanos afirmam que a inteligência artificial vai impactar os empregos. Para os executivos, a tecnologia já influencia a maneira como cargos são estruturados, tarefas são distribuídas e habilidades são avaliadas. Além disso, 67% dos líderes ouvidos afirmam que a IA afeta o dia a dia das equipes, embora muitos considerem prematuro mensurar seu impacto total, uma vez que grande parte das empresas ainda não integrou plenamente as ferramentas de inteligência artificial a todas as funções
Diante desse cenário, o especialista em IA aplicada ao futuro do trabalho, Rafael Irio, avalia que o mercado vive uma transição estrutural. “A inteligência artificial deixa de ser apenas um recurso operacional e passa a atuar como um elemento de reorganização do trabalho. O que muda não é apenas o que se faz, mas como se pensa a função, a carreira e a relação entre pessoas e tecnologia”, afirma.
Entre as mudanças mais visíveis está a transição para modelos de contratação baseados em habilidades. Com o apoio de sistemas de IA, empresas ampliam o uso de avaliações práticas, análises de desempenho e mapeamento de competências baseado em dados, o que desloca o foco da formação formal para a capacidade de adaptação e aprendizado contínuo.
Segundo Irio, essa tendência redefine o acesso ao mercado de trabalho. “A contratação por habilidades amplia oportunidades, mas exige critérios bem definidos. A IA pode ajudar a identificar competências reais, desde que seja usada com responsabilidade e alinhada a políticas de desenvolvimento profissional”, observa.
Apesar do avanço tecnológico, a pesquisa também aponta que eventuais cortes de pessoal previstos para 2026 não devem ocorrer por ganhos diretos de eficiência proporcionados pela IA, mas pela pressão por redução de custos. Atualmente, 61% dos executivos afirmam que a tecnologia tornou suas empresas mais eficientes, enquanto 78% avaliam que ela contribuiu para tornar as equipes mais inovadoras.
Para Rafael Irio, esses dados indicam que a discussão sobre desemprego associado à IA precisa ser qualificada. “Os números mostram que a tecnologia melhora processos e amplia a capacidade criativa das equipes. As decisões sobre cortes seguem ligadas a estratégias econômicas, não à substituição direta de pessoas por sistemas”, afirma.
Ao mesmo tempo, a inteligência artificial impulsiona a criação de novos postos de trabalho e fortalece funções já existentes, especialmente em áreas como tecnologia da informação, marketing digital, ciência de dados e assistência virtual. Em contrapartida, atividades baseadas majoritariamente em tarefas repetitivas, como algumas funções administrativas simples e análises básicas de dados, tendem a perder espaço ao longo do tempo.
Nesse contexto, Irio destaca que o principal desafio não é tecnológico, mas educacional. “O primeiro passo para enfrentar esse cenário é o letramento em inteligência artificial. Compreender como a tecnologia funciona, quais são seus limites e como interagir com ela passa a ser uma habilidade básica”, afirma.
Além da alfabetização, competências como adaptabilidade e flexibilidade tornam-se centrais. A capacidade de ajustar-se a novos contextos, ferramentas e ambientes de trabalho passa a definir a permanência e a evolução profissional em um mercado cada vez mais mediado por dados e sistemas inteligentes.
No Brasil, a implementação da inteligência artificial na capacitação da mão de obra ainda ocorre de forma desigual. O país enfrenta desafios relacionados à qualificação dos trabalhadores e à preparação dos empresários para incorporar a tecnologia aos processos produtivos, especialmente fora dos grandes centros e dos setores mais digitalizados, o que limita o ritmo de adaptação às transformações em curso.
Ainda assim, Rafael Irio avalia que o impacto da IA tende a ser positivo no longo prazo, desde que haja investimento consistente em formação. “A qualificação profissional precisa acompanhar a velocidade da tecnologia. Cursos, aprendizado contínuo no ambiente de trabalho e políticas de letramento em IA são decisivos para que o país aproveite as oportunidades geradas e transforme inovação em desenvolvimento econômico”, conclui.