Daniel Agrela*
Quem trabalha com comunicação provavelmente já deve ter ouvido este comentário bastante desanimador: “Na crise, nossa área é a primeira a sofrer cortes de investimento”. Pelas empresas em que passei, volta e meia ouvia alguém soltar essa frase em um tom profético digno do Velho Testamento. É claro que há muita verdade nessa citação, afinal de contas em um país de grandes desigualdades, instabilidades políticas e econômicas como o nosso, adversidade é o que não falta. E, na hora do aperto, é preciso definir prioridades. No entanto, vejo que essa expressão pessimista está com os dias contados.
Além de uma percepção de quem vive nesse mercado, muitos indicadores mostram que as perspectivas para a área da comunicação são positivas. Uma delas, divulgada recentemente pela empresa americana The Business Research Company, projeta que a indústria global de relações públicas, por exemplo, deve passar de US$ 88,13 bilhões em 2020 para US$ 97,13 bilhões em 2021 a uma taxa de crescimento anual composta de 10,2%. Para 2025, o estudo indica que o setor deve atingir US$129,35 bilhões.
O motivo principal que sustenta essa estimativa de crescimento está no fato de que as empresas precisam, e rápido, se recuperar dos impactos causados pelo tsunami da COVID-19 e veem na comunicação corporativa uma aliada fundamental nessa missão. É claro que essa percepção é mais evidente nas companhias americanas e europeias, mas o Brasil já despertou para essa realidade, especialmente quando o assunto é relações públicas.
Com a função de construir e promover a imagem de clientes, estabelecendo conexões de negócio e comunicação, a estratégia em relações públicas é a alternativa cada vez mais buscada por empresas que querem se estabelecer como marcas fortes em seus respectivos segmentos.
Desde o início da pandemia, fechou-se a porta dos eventos, é verdade, mas abriram-se as janelas de outras ferramentas para dar visibilidade consistente às empresas. As mídias sociais (e suas diversas plataformas), o novo modelo de assessoria de imprensa, os conteúdos customizados e audiovisuais e as campanhas com micro-influenciadores são alguns dos serviços mais contratados pelas companhias que investem em RP.
Mas isso em meio a maior crise da história recente? Sim! As marcas perceberam a importância de falar de si para reduzir as perdas econômicas ou, em alguns setores, até aumentar os resultados.
Mas, sobretudo, muitas companhias notaram que era preciso se posicionar. Nesse cenário passaram a mostrar que estavam, de fato, colocando em prática seus propósitos em um momento de enorme fragilidade da nossa sociedade.
É claro que por trás desse contexto existe uma estratégia que também, quase sempre, passa pelas mãos da agência de comunicação. Como acontece há décadas nos Estados Unidos, o PR (public relations) é parte integrante da organização e não apenas um fornecedor que veio a passeio. Vejo que essa mudança de percepção tem sido fundamental no modo de pensar e construir ações assertivas, gerando valor às marcas e impactando positivamente o público consumidor.
Esse é um caminho sem volta. Mesmo porque, no mundo pós-pandemia, a relação cliente-empresa estará em outro patamar e para desenvolvê-la continuamente será imprescindível contar com uma estratégia de comunicação.
*Daniel Agrela é jornalista e escritor. É também sócio-fundador da Digital Trix, agência de relações públicas com atuação no Brasil e no exterior.
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