Milhares de brasileiros convivem com arritmias sem saber

by Amarildo Castro
  • Batimentos acelerados, lentos ou irregulares podem indicar alterações no ritmo do coração, condição que exige diagnóstico precoce e acompanhamento médico

O coração é um órgão que trabalha em perfeita sincronia, batendo de forma ritmada e constante para garantir que o sangue chegue a todos os órgãos. Quando essa harmonia é interrompida, o corpo dá sinais de alerta que não devem ser ignorados. As arritmias cardíacas são alterações na formação e na condução do impulso elétrico responsável pelos batimentos do coração — e, embora muitas vezes passem despercebidas, podem ter consequências graves.

O cardiologista e eletrofisiologista do Hospital Encore, Silvio Alessi, explica que as arritmias se dividem em dois grandes grupos: taquiarritmias, quando o coração acelera além do normal, e bradiarritmias, quando os batimentos ficam muito lentos. “Essas alterações merecem atenção porque, em muitos casos, estão associadas a doenças cardíacas, podem causar desmaios e até levar à morte súbita”, alerta o médico.

A gravidade do problema se reflete em números. Estima-se que a morte cardíaca súbita cause entre 350 e 400 mil óbitos por ano no Brasil, sendo as arritmias e o infarto agudo do miocárdio as causas mais frequentes. Nem toda morte súbita é provocada por arritmia, mas ela é uma das principais causas, especialmente quando o coração apresenta doenças estruturais ou elétricas.

Como o corpo e a rotina influenciam

Os fatores de risco são variados e incluem hipertensão, infarto prévio, diabetes, obesidade, tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo. Além disso, o estresse, a apneia do sono, o uso de algumas medicações, o envelhecimento e o desequilíbrio de eletrólitos também podem favorecer o surgimento do problema.

Em muitos casos, as arritmias são silenciosas e só podem ser detectadas em consultas médicas e exames de rotina. “O diagnóstico pode ser feito por meio de exames simples e acessíveis, como o eletrocardiograma, o Holter — que monitora o coração por 24 horas — e o teste de esforço”, detalha o cardiologista. Em alguns casos, pode ser necessário realizar um estudo eletrofisiológico, para identificar a arritmia corretamente e se necessário tratar com ablação.

Ainda assim, há sintomas que merecem atenção imediata, como palpitações, aceleração dos batimentos, tontura, cansaço e desmaios. Esses sinais devem ser valorizados, pois podem indicar uma arritmia em curso. Muitas vezes, pacientes com sintomas desse tipo, são diagnosticados erroneamente com crises de ansiedade ou síndrome do pânico, quando na verdade apresentam uma alteração cardíaca que requer acompanhamento especializado.

O tratamento depende do tipo e da gravidade da arritmia. Pode envolver o uso de medicamentos antiarrítmicos, procedimentos de ablação — que corrigem de forma definitiva o foco da arritmia —, ou ainda o implante de marcapasso ou desfibrilador cardíaco, especialmente em casos de taquicardias ventriculares.

Além da abordagem médica, o estilo de vida exerce papel essencial na prevenção. A prática regular de atividade física — de 150 a 300 minutos por semana —, evitar o consumo de álcool, o tabagismo, as drogas ilícitas e o uso excessivo de energéticos são medidas simples que reduzem significativamente o risco.

Silvio Alessi lembra que a avaliação cardiológica anual é recomendada mesmo para pessoas sem sintomas, especialmente para quem tem histórico familiar de doenças do coração. “A arritmia pode surgir em qualquer fase da vida — desde o nascimento até a idade adulta e o envelhecimento. Algumas são genéticas, outras estão associadas a cardiopatias adquiridas. O importante é não negligenciar os sinais”, orienta

E completa: “Arritmia tem tratamento e, em grande parte dos casos, pode ser controlada ou curada. O diagnóstico é simples e acessível, e realizar o check-up cardiológico, mesmo sem sintomas, é a melhor forma de prevenir e preservar a vida.”

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