- Campanha destaca a urgência de políticas públicas e o reconhecimento do DM 1 como deficiência
O mês de novembro é internacionalmente reconhecido como o mês de conscientização e prevenção ao diabetes, e o dia 14 de novembro, instituído pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), marca o Dia Mundial do Diabetes, em homenagem a Frederick Banting, descobridor da insulina ao lado de Charles Best, em 1921. A data reforça a necessidade de diagnóstico precoce, tratamento contínuo e políticas públicas eficazes em um cenário que afeta milhões de brasileiros.
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), cerca de 20 milhões de pessoas vivem com a doença, enquanto a revista The Lancet aponta que 520 mil brasileiros têm diabetes tipo 1 (DM1). No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde estima que 10 mil pessoas convivem com o diagnóstico. Antes mesmo da confirmação, muitos passam por uma fase silenciosa, o pré-diabetes, caracterizado por alterações discretas nos níveis de glicose. Segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 18 milhões de pessoas vivem com diabetes no país, e uma parcela significativa da população adulta apresenta risco de desenvolver a doença.

O diabetes é uma condição que se manifesta de diferentes formas. O tipo 1 costuma surgir na infância ou adolescência e decorre da destruição das células produtoras de insulina. O tipo 2 está relacionado à resistência à insulina e afeta principalmente adultos com excesso de peso ou histórico familiar. Outros tipos podem surgir durante a gestação ou em decorrência de alterações genéticas.
Para a presidente do Instituto Diabetes Brasil (IDB), Jaqueline Correia, fundadora da entidade em 2021 após o diagnóstico de seu filho, Levi, com diabetes tipo 1, o mês de novembro é um chamado à ação. “No Brasil, são cerca de 522 mil de pessoas com diabetes tipo 1. Precisamos de políticas públicas que garantam proteção e tratamento para essas famílias. A insulina foi descoberta há mais de 100 anos e, ainda assim, não há uma lei específica que assegure seus direitos. O Congresso Nacional tem a oportunidade de corrigir essa injustiça ao derrubar o Veto 04/2025 ao PL 2687/22”, afirma.
Derrubada do veto ao Projeto de Lei 2687/22
O Congresso Nacional aprovou, em dezembro de 2024, o Projeto de Lei 2687/22, de autoria dos deputados Flávia Morais (PDT-GO) e Dr. Zacharias Calil (UNIÃO-GO), que reconhece o diabetes tipo 1 como deficiência. A proposta garante às pessoas com a condição o acesso a direitos já assegurados a outras doenças crônicas, como prioridade em atendimentos, acesso a tecnologias assistivas e políticas específicas de saúde e educação. O texto, no entanto, foi vetado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sob o argumento de impacto orçamentário.
“Essas pessoas enfrentam barreiras diárias, desde a inclusão escolar até a inserção no mercado de trabalho. O reconhecimento do DM1 como deficiência já é uma realidade em países como Canadá e Espanha. No Brasil, seguimos lutando por um direito básico”, destaca Jaqueline Correia.
A presidente do Instituto Diabetes Brasil (IDB), Jaqueline Correia, destaca que o Brasil ocupa uma posição alarmante no cenário global. Segundo ela, o diabetes tipo 1 é uma condição invisível, e o país é o terceiro do mundo onde mais pessoas morrem por hipoglicemia noturna.
“Estudos da Lancet mostram que cerca de 250 mil pessoas morreram no país por complicações associadas à doença. O monitoramento precisa ser constante. Quem não tem acesso a sensores e bombas de insulina enfrenta barreiras ainda maiores, já que o uso dessas tecnologias mantém o paciente dentro da faixa ideal de controle glicêmico, reduzindo o risco de comorbidades relacionadas ao diabetes”, alerta.
Políticas públicas salvam vidas
Especialistas reforçam que o maior desafio das pessoas com diabetes é o acesso equitativo ao tratamento. As tecnologias modernas, como bombas inteligentes e sensores de glicose com alarmes, têm transformado o controle da doença, mas ainda são inacessíveis à maioria dos pacientes. “Acompanhamos centenas de pessoas em uso da bomba inteligente, com resultados excelentes. O problema é que a tecnologia ainda é privilégio de poucos. Precisamos de políticas públicas que democratizem esse acesso”, explica a vice-presidente da SBD, Solange Travassos.
Nas regiões mais vulneráveis, o apoio das organizações civis é essencial. “Aqui enfrentamos dificuldades financeiras e falta de voluntários. O IDB nos orienta e fortalece, ajudando a conquistar avanços como projetos de lei que garantam atendimento prioritário às pessoas com diabetes”, relata Michely Arruda Bernardelli, enfermeira e representante da Associação Doce Vida, em Lages (SC).
A nutricionista Ana Carolina Castelo Branco Torelly, voluntária do IDB, reforça a importância da educação alimentar na prevenção. “Realizamos aulas gratuitas e presenciais em Brasília e fornecemos cestas básicas de frutas e legumes, incentivando hábitos alimentares saudáveis.”
Para Lucas Leme Galastri, vice-presidente da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), a união das instituições é o que dá força ao movimento. “A parceria entre ADJ, IDB, SBD, ANAD, FENAD, ICD, Associação Doce Vida, Rede Dedicar, IDF, Instituto Tipo 1 e tantas outras é essencial para fortalecer o advocacy e ampliar o acesso a insumos e medicamentos. Juntos, sensibilizamos autoridades e levamos apoio às famílias mais vulneráveis.”
Jantar de Líderes e Autoridades – Diabetes em Foco
Encerrando o mês de mobilização, o Instituto Diabetes Brasil promove, em parceria com a Frente Parlamentar Mista de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Diabetes, a 3ª edição do “Jantar de Líderes e Autoridades – Diabetes em Foco”, um encontro restrito a convidados que reúne parlamentares, gestores públicos, profissionais de saúde e lideranças civis.
“O Brasil ocupa o terceiro lugar mundial em custos com comorbidades associadas ao diabetes, grande parte evitável com prevenção e tratamento adequados. O diálogo entre sociedade e poder público é fundamental para mudar essa realidade”, conclui a presidente do IDB, Jaqueline Correia.