Parque Pico Paraná terá regras para visitação que buscam garantir a conservação da natureza e melhorar a experiência de quem visita

by Amarildo Castro
  • Financiado pelo Programa Biodiversidade do Litoral do Paraná, novo Plano prevê medidas como gestão de acesso à Unidade de Conservação e outras ações preventivas para qualificar a experiência e garantir a proteção do local a longo prazo

O crescente interesse por atividades de natureza e montanhismo no Paraná reacendeu uma urgente discussão sobre os limites da visitação em áreas naturais sensíveis da Serra do Mar. No centro desse debate está o Parque Estadual Pico Paraná (PEPP), Unidade de Conservação que abriga o ponto mais alto do Sul do Brasil e se tornou destino frequente de trilheiros, escaladores, corredores de montanha e visitantes de modo geral. 

Com visitação crescente, mas sem um plano de manejo em vigor, o Parque passa agora a contar com um instrumento inédito: o Plano de Uso Público Emergencial (PUPe), elaborado pelo Instituto Água e Terra (IAT) com apoio técnico e financeiro do Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP). O documento define, pela primeira vez, diretrizes detalhadas para ordenar o uso público do parque, incluindo regras para pernoites, acesso controlado, manejo de trilhas e participação comunitária.

Embora mais rígido, o Plano não visa reduzir a visitação ao Pico Paraná, mas qualificar a experiência e garantir a proteção do local a longo prazo. A regulamentação prevê parcerias com prefeituras, universidades, operadoras de turismo e comunidades do entorno para ampliar a fiscalização, a educação ambiental e a geração de renda.

Pressão crescente nas montanhas paranaenses

Entre 2021 e 2023, o número de visitantes nas Unidades de Conservação paranaenses cresceu 184%, saltando de 192 mil para mais de 545 mil pessoas, segundo dados do IAT (Instituto Água e Terra). O montanhismo e as caminhadas em áreas naturais têm se consolidado como alternativas de lazer e turismo no estado, impulsionadas por uma busca crescente por mais contato com a natureza após a pandemia causada pela Covid-19, entre os anos de 2020 e 2021.

O Parque Estadual Pico Paraná faz parte dessa tendência. Além de abrigar o cume mais alto da Região Sul (com 1.877 metros de altitude), é um dos principais pontos de partida para trilhas icônicas como Itapiroca, Caratuva e Camapuã. Dados de 2024 mostram que em junho, considerado mês de alta temporada, mais de 3.500 pessoas passaram pela trilha do setor Caratuva — embora sensores instalados pelo IAT apontem que mais da metade da visitação ocorre sem registro.

A preocupação com o impacto ambiental ao espaço acompanha o crescimento. A expansão descontrolada do turismo tem provocado erosão de solo, degradação de nascentes, formação de trilhas paralelas, descarte de lixo e até conflitos entre grupos comerciais, corredores de montanha, campistas e escaladores, por exemplo.

Confira as principais ações previstas 

Entre as principais ações previstas no Plano Emergencial estão a obrigatoriedade de cadastro on-line e a assinatura de um termo de ciência dos riscos por parte dos visitantes, além da criação de um sistema de reservas para camping em clareiras previamente autorizadas. Também estão previstas medidas como o fechamento temporário de áreas degradadas para recuperação ambiental, a proibição de fogueiras, descarte de lixo e barulho em áreas sensíveis, e a padronização da sinalização das trilhas, com instalação de escadas-grampo em trechos mais perigosos. O Plano ainda incorpora mecanismos inéditos em Unidades de Conservação estaduais, como a exigência do uso de kits de dejetos por quem pernoitar nas montanhas e a obrigatoriedade de placas de identificação nas barracas, facilitando a fiscalização.

“Queremos aprimorar ainda mais, criando um sistema de cadastro que atenda mais nossa necessidade, com mais funcionalidades e que permita uma melhor análise de dados”, comenta Marina Rampim, bióloga e chefe da Unidade de Conservação. 

Apoio de um dos maiores programas de conservação do país

A execução do Plano é financiada pelo Programa Biodiversidade Litoral do Paraná (BLP), criado como compensação ambiental pelo vazamento de óleo da Petrobras em 2001. Com aporte de R$ 110 milhões ao longo de 10 anos, o BLP é considerado uma das maiores iniciativas de conservação da Mata Atlântica em andamento no Brasil.

Sob coordenação do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e com governança compartilhada entre instituições como SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), supervisionados pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Paraná, o BLP apoia ações estratégicas voltadas à proteção da biodiversidade e ao fortalecimento comunitário.

Envolvimento da sociedade e legado a longo prazo

Para a implementação do Plano Emergencial, foi criado um conselho consultivo e um programa de voluntariado para o monitoramento das trilhas. A expectativa é de que a experiência sirva como base para o futuro Plano de Manejo definitivo da Unidade. Organizações como a Federação Paranaense de Montanhismo (FEPAM) — criada em 2002 e filiada à Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada — devem ter papel ativo nesse processo, oferecendo capacitações, apoio técnico e ações educativas para clubes e visitantes.

“Teremos que unir esforços para executá-lo. Muitas mudanças exigirão tempo e adaptação por parte dos visitantes. Mas é uma transformação necessária para garantir a proteção do parque e das montanhas que fazem parte da nossa identidade”, diz a bióloga Marina Rampim. 

Sobre o Programa Biodiversidade Litoral do Paraná

Criado em 2021, o Programa Biodiversidade Litoral do Paraná promove a conservação, a pesquisa e o uso responsável dos recursos naturais, fortalecendo Unidades de Conservação e impulsionando o desenvolvimento sustentável do litoral paranaense. Financiado pelo Termo de Acordo Judicial (TAJ) firmado após o vazamento de óleo ocorrido em 2001, o Programa investirá mais de R$ 110 milhões em iniciativas estratégicas ao longo de dez anos.

A governança do programa é compartilhada entre organizações da sociedade civil, instituições de ensino superior e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), supervisionados pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público do Paraná. A gestão financeira e operacional do Programa é realizada pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). Para saber mais, acesse www.biodiversidadelitoralpr.com.br

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