Quem são as vozes da sua cabeça?

Você tem um Conselho Consultivo?

Quando eu era jovem, via alguns filmes e achava o máximo a figura do Conselho – ou, em inglês, “board”. Achava aquilo mágico. Imagina só, você ter um conjunto de pessoas altamente respeitadas e experientes para lhe ajudar quando você precisa tomar decisões. A imaginação era tanta que pensava como um Conselho poderia me ajudar na hora de escolher qual faculdade cursar ou até como estudar para alguma prova ou competição.

Para mim, essa instituição era algo mágico. Mais velho um pouco, questionei o porquê do meu pai não ter um Conselho em sua pequena empresa. Afinal, muitos dos desafios pelos quais ele estava passando, alguém já deveria ter passado. Isso economizaria tempo e esforço. A resposta do velho foi que não havia dinheiro para isso, já que esses profissionais eram extremamente caros.

Dessa maneira, minha ânsia pela implantação das melhores práticas na pequena empresa dos meus pais foi sendo reduzida. Era o velho choque de realidade em que nós descobrimos que não somos tão espertos como pensávamos a priori.

Anos se passaram e, assistindo à uma palestra, aprendi a como contornar o problema. Era simples e mágico, típico das grandes ideias. Ao ser questionado sobre seus resultados alcançados, o palestrante atribuiu boa parte de seu sucesso ao Conselho. Em seguida, começou a citar os nomes de seus conselheiros. Pasmem, a maioria já havia morrido.

A plateia entrou em choque. Será que a palestra sobre produtividade era, na verdade, uma sessão mediúnica? Como aquele sujeito era capaz de falar com os mortos e, ainda por cima, questioná-los sobre sua tomada de decisão? Ao ver a cara de espanto dos presentes, ele logo emendou: calma que não falo com mortos, não. O que faço é pensar como alguns dos autores que admiro iriam responder ao desafio que estou enfrentando.Além de ler, ele também confidenciou que assistia aos inúmeros vídeos disponíveis no YouTube e em outras mídias digitais.

Como começar seu conselho?
Tocado após o evento, comecei a pensar quem seriam os meus conselheiros titulares e esporádicos. Havia muita gente boa cuja obra poderia me orientar e que os vídeos eu nunca havia visto. Só para citar alguns, logo chamei o Deming. Esse senhor tinha ajudado na reconstrução do Japão e na revolução da indústria mundial. Tê-lo na FM2S iria catapultar nossos resultados. Dito e feito! Do livro “A Nova Economia para a Indústria, o Governo e a Educação”, eu tive uma das maiores lições de como tocar uma empresa.

Depois, o próprio Deming me indicou o Peter Scholtes, que se tornou o meu cara de Gente e Gestão. Times da Qualidade é um ode à gestão de equipes do jeito certo. Quando ele me disse para não tratar os colaboradores como um pai bravo trata os seus filhos desobedientes, caí para trás. O cara conhecia a minha empresa, não era possível.

Depois dessa dupla de notáveis, contratei o Andy Groove, fundador da Intel. O cara me deu uma aula do porquê não adiantava contratar pessoas de sucesso de outras empresas para trabalhar na FM2S se eu não desse estrutura. Em seu livro sobre “Administração de Alta Performance”, ele explica tudo sobre o perfil das pessoas que precisam compor o seu time trabalhando com o conceito de maturidade na tarefa.

Depois dele, chamei um brasileiro. Antônio Ermírio de Moraes. O livro que conta a história dos 90 anos da Votorantim deixa claro o nível de tensão que um cara desses segura. Além disso, assisti às suas entrevistas no Roda Viva. Assisti não, praticamente decorei.

Lá, fui apresentado a uma série de notáveis. Do Duda Mendonça (seu livro é uma aula de marketing e pesquisa qualitativa) ao Nizan, passando pelo Washington, eu pude absorver insights e fontes para vender melhor nosso produto.

E a lista é interminável. Jorge Caldeira nos colocou o Mauá e o Júlio de Mesquista na sala. E, com isso, um pouco sobre como nosso país funciona. Ao invés de reclamar, esses dois senhores me mostraram que era melhor aprender as regras e trabalhar com elas. Clayton M. Christensen deu uma aula sobre inovação. Tina Seelig, sobre como inovar e ser mais criativo. A galera da Y Combinator, como escalar meu negócio – e por aí vaí.

Para não me estender demais, gostaria de encerrar deixando aqui essa mensagem: não reclame da solidão. Se apoie nos ombros dos gigantes, pois só assim você irá ver mais longe e chegar em locais que poucos chegaram. Se conseguirmos participar da formação de 160 mil alunos em 2022, devo muito a esses gigantes, que me deram inúmeros conselhos – mesmo sem saberem. Para pedras que existem no seu caminho, há inúmeras formas de contorná-las. Para cada “babaca” que aparece para lhe julgar ou duvidar de você, há monstros sagrados que deixaram uma obra extensa e fundamental para você brilhar.

Contar com essas lendas no seu conselho não custa nada. No máximo, um bom livro e algumas horas de bunda na cadeira. Entretanto, o resultado tem um retorno infinito. E, uma vez que você deixa esse time entrar no seu Conselho Pessoal, eles não saem mais. Estarão a trabalhar diuturnamente para o seu sucesso. A cada conversa que você travar, ouvirá essa galera lhe falando no ouvido como proceder e se dar bem.

A dica para 2023: monte seu Conselho, urgente! Se já tem algum conselheiro, por favor, comente. Se for vivo, marque para mostrar o seu agradecimento.

Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.

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