Por medida provisória, governo tenta tirar direitos dos trabalhadores brasileiros

by Amarildo Castro

Os trabalhadores brasileiros, que vêem sua renda derreter diante da inflação sem controle registrada nos últimos meses, voltaram a ser alvo da precarização nesta semana. A Câmara dos Deputados aprovou, na última quarta, 11, a Medida Provisória 1.099/22, que cria o Programa Nacional de Prestação de Serviço Civil Voluntário. O mesmo projeto já havia sido derrubado no Senado em setembro de 2021, após aprovação pelos deputados.

O programa é direcionado a jovens de 18 a 29 anos e a pessoas acima de 50 anos que estão sem emprego formal há mais de dois anos. Sem carteira assinada e com salário abaixo do salário mínimo nacional, seria bancado integralmente pelos municípios e que exigiria que os selecionados façam cursos após sua seleção.

A medida, requentada pela Bia Kicis após a derrota em setembro, escancara a vontade do governo em derrubar e retirar os direitos trabalhistas. A MP anterior, a 1045/21, também chegou a ser aprovada na plenária da Câmara, mas foi derrubada no Senado após uma ampla mobilização popular, das centrais sindicais e de entidades como Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) e Ministério Público do Trabalho (MPT).

Segundo o disposto pela MP, o programa durará dois anos e será pago integralmente pelas prefeituras, sem repasses estaduais ou federais. Os contratados terão jornadas de até 22 horas semanais, com máximo de oito horas diárias, recebendo R$ 5,51 por hora, o equivalente ao valor da hora de trabalho do salário mínimo. Dessa forma, o salário médio ficaria entre R$ 480 e R$ 580.

Em termos de benefícios, a prefeituras precisarão garantir apenas o vale-transporte ou outro meio de locomoção e um seguro de acidentes pessoais. Direitos trabalhistas assegurados em lei, como 13º salário, FGTS, tempo de aposentadoria e outros não serão concedidos aos inscritos.

Críticas ao projeto

Entrevistado pelo Brasil 247, o secretário de Assuntos Jurídicos da CUT Nacional, Valeir Ertle, criticou a retomada do projeto. “É um absurdo o governo requentar uma medida provisória por não aceitar a derrota. Eles insistem em precarizar as relações de trabalho, não dando nenhuma garantia social, como previdência e outros direitos. E ainda quer que o trabalhador ganhe menos do que o salário mínimo. O próprio nome do programa ‘trabalho voluntário’ é equivocado. O trabalhador tem de ganhar pela riqueza que gera”, acrescentou.

Em nota, a Anamatra afirma que a MP é inconstitucional e que o governo usa suas atribuições de forma irregular, e “se utiliza do instrumento constitucional da medida provisória para enveredar verdadeira reforma trabalhista, situação que se constata em razão da quantidade de temas, normativos e dispositivos de matéria trabalhista alterados por medidas provisórias editadas em sequência, sem o prudente debate, gerando insegurança jurídica”.

Tentativas de deputados da oposição de adiar a votação, assim como destaques apresentados pela bancada para tentar garantir mais direitos, como licenças por saúde, maternidade e paternidade, piso de um salário mínimo, INSS e FGTS, além de fiscalização do programa, foram rejeitadas pela maioria do plenário.

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