Cerca de 400 mil toneladas de resíduos sólidos foram recolhidas nas áreas públicas do DF, de janeiro a agosto de 2023. GDF investe em campanhas educativas para diminuir ocorrências
A construção de um papa-entulho, equipamento público que recebe restos de construção civil, móveis e outros resíduos volumosos, custa R$ 465 mil aos cofres públicos do Distrito Federal. Já com R$ 54 mil, é possível instalar um papa-lixo em uma área isolada ou de difícil acesso, onde o caminhão da coleta convencional não costuma atender. Agora, imagine o que poderia ser feito com R$ 36 milhões.
Esse foi o montante que o Governo do Distrito Federal (GDF) se viu obrigado a gastar, de janeiro a agosto deste ano, para recolher aproximadamente 400 mil toneladas de resíduos descartadas em ruas, parques e terrenos baldios. Em 2022, o valor gasto para manter as áreas públicas da capital do país livres do lixo ficou em R$ 42,5 milhões.
“Essa verba poderia ser usada para fazer mais campanhas educativas e instalar novos equipamentos públicos”, aponta Andréa Almeida, chefe da Unidade de Medição e Monitoramento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU). “Na tentativa de reduzirmos esse desperdício de dinheiro público, estamos investindo cada vez mais na educação. A população precisa entender que descartar resíduos em área pública é crime”, completa.
O SLU tem uma equipe de mobilização ambiental que faz um trabalho de conscientização frente a frente com a comunidade. Os agentes passam nas casas e nos comércios orientando sobre como separar o lixo, informando sobre os equipamentos públicos de coleta de resíduos mais próximos e ensinando a usar o aplicativo gratuito do órgão – a ferramenta está disponível para download em aparelhos Android e IOS.
“Está tudo na palma da mão, não tem justificativa para descartar o lixo onde não pode”Andréa lmeida, chefe da Unidade de Medição e Monitoramento do SLU
“É um app muito interativo, que usa a geolocalização da pessoa para informar os dias e horários da coleta seletiva e convencional, bem como os papa-entulhos, papa-lixos e para-recicláveis mais próximos”, ressalta Andréa. “Está tudo na palma da mão, não tem justificativa para descartar o lixo onde não pode.”
A gestora também destaca o programa De Cara Nova como um dos grandes aliados na educação ambiental da comunidade. “Em parceria com a Novacap, limpamos, pintamos e plantamos mudas de árvores nos locais em que o descarte irregular de resíduos é recorrente”, conta Andréa. “Também trabalhamos com as crianças da comunidade para que elas ajudem na conscientização dos adultos”.
O projeto já recuperou dez pontos viciados. E os resultados têm agradado o SLU. “Percebemos que as pessoas respeitam o trabalho feito nesses locais e não voltam a jogar lixo ali”, observa Andréa. “O próximo lugar a receber o De Cara Nova provavelmente será Planaltina, em uma área perto do Córrego Atoleiro”.
Notificações e multas
Quando as ações educativas do SLU não se mostram suficientes, a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística, mais conhecida como DF Legal, entra em ação com o papel de coibir o descarte irregular de resíduos sólidos. A pasta tem 122 auditores que fiscalizam, diariamente, todas as regiões administrativas do Distrito Federal.
“Quando é pega em flagrante jogando entulho em área pública, a pessoa pode receber uma multa que varia de de R$ 2.695 a R$ 26.959, de acordo com a quantidade de resíduos descartados”, alerta Edmilson Cruz, subsecretário de Fiscalização de Resíduos Sólidos da DF Legal. “O veículo usado pelo infrator também é apreendido.”
Restos de construção civil deixados na rua, perto de obras, também são passíveis de multa. “Primeiro, notificamos o responsável, que tem de três a cinco dias para remover os resíduos”, informa Edmilson. “Se o entulho não for retirado, o proprietário da obra pode pagar de R$ 107 a R$ 2.695”.
De outubro de 2022 até setembro de 2023, a DF Legal fez 11.885 vistorias nas proximidades de obras, em busca de resíduos descartados irregularmente – 1.807 notificações foram lavradas. A pasta ainda aplicou 167 multas em flagras de crime ambiental.
Transtornos para todos
Além do prejuízo financeiro, o lixo jogado em áreas públicas também provoca alagamentos e colabora para a proliferação de doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti
Além do prejuízo financeiro, o lixo jogado em áreas públicas também provoca alagamentos e colabora para a proliferação de doenças transmitidas pelo mosquito aedes aegypti. “A quantidade de resíduos que encontramos dentro das bocas de lobo é impressionante. Garrafas, sacos plásticos, embalagens… A rede de drenagem termina obstruída, não tem jeito”, afirma Andréa.
Jogar resíduos volumosos, como móveis velhos e restos de construção civil, em locais inapropriados pode não causar alagamentos, mas atrai animais peçonhentos, como os escorpiões, e facilita o acúmulo de água. “Cidades que apresentam muitos casos de dengue costumam ser aquelas com um grande quantidade de descartes irregulares. São dois fatores que estão interligados”, comenta Andréa.
Carolina Caraballo, da Agência Brasília | Edição: Vinicius Nader
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