* Por Gustavo Silveira Graudenz
Quem tem filhos em idade pré-escolar viveu, no primeiro semestre deste ano, um cenário preocupante com as conhecidas “crechites”, episódios frequentes – às vezes, praticamente sem intervalos – e recorrentes de infecções como resfriados comuns, bronquiolites, conjuntivites, faringites, gastroenterites e otites, geralmente causadas por vírus que circulam muito entre crianças pequenas, principalmente entre aquelas que frequentam a escola. Na comunidade médica, esse período é conhecido como “batismo imunológico”: todos passamos por isso, nossos filhos passarão também.
Dados do Infogripe, levantamento da Fiocruz realizado este ano, 15% das internações em hospitais são de crianças de zero a 5 anos. Esse quadro inclui casos de Covid-19, pois trata-se de uma faixa da população não vacinada até o momento, mas muitos deles são referentes às mais variadas “crechites” e não faltam febre, secreção e tosse. O que fazer, então, com a chegada do inverno? Aproveitando também as férias, esse tempinho longe de tantos vírus, algo que pode ajudar é agir preventivamente com as crianças, estimulando sua imunidade.
Vale lembrar, contudo, que lidamos com um momento importante da história. A pandemia por Covid-19 ainda está em curso, e os dois anos que passamos com reduzido contato social alterou nossa resposta imunológica à exposição dos mais diferentes vírus. Em razão de permanecerem tanto tempo em casa, além da falta de vitamina D, que possui papel importante no combate às viroses, nossas crianças também ficaram sem a famosa “vitamina S”, que é uma brincadeira para dizer que o contato diário com vírus de todos os tipos prepara nosso organismo para combatê-los. Neste contexto, com nossos corpos destreinados para desenvolver imunidade, as doenças voltaram a circular mais fortes e com mais frequência.
Com o início do período de férias escolares, os responsáveis têm uma janela de oportunidade para ampliar a imunidade natural das crianças pequenas, por meio de uma abordagem preventiva, reforçando o organismo dos pequenos para o retorno às escolas em agosto.
Há várias maneiras de estimular a imunidade natural das crianças. Uma maneira é garantir que elas tenham sono suficiente e de qualidade: dormir cedo não deve ser deixado de lado por causa das férias e de uma flexibilidade maior de horários. Também é importante garantir que elas tenham uma dieta balanceada e façam exercícios regularmente. Passeios ao ar livre, brincadeiras em casa, bicicleta e correria, tudo que criança gosta. Além disso, é útil limitar sua exposição a potenciais fontes de infecção, tais como grandes multidões ou pessoas doentes.
Finalmente, é uma boa ideia aproveitar o tempo maior com as crianças para reforçar bons hábitos de higiene, tais como lavar as mãos regularmente e cobrir a boca quando espirram ou tossem. Isso tudo sem esquecer que uma das melhores coisas que os pais podem fazer para reduzir o risco de seus filhos adoecerem durante as férias é garantir que o calendário vacinal esteja em dia.
Outras dicas simples são:
· Lave suas mãos regularmente e encoraje seus filhos a fazer o mesmo
· Evite compartilhar utensílios, copos ou pratos com outros
· Evite o contato íntimo com pessoas que estão doentes
· Desinfete regularmente superfícies que são frequentemente tocadas
A infância é um desafio gigantesco para as famílias, e lidar com doenças frequentes nesse período de batismo imunológico é parte disso. Mas não desanimem. Ajudem os pequenos nesse “treino” do organismo e sigam em frente, aproveitem ao máximo esta fase. Porque além de desafiadora, a infância também é muito breve.
* Gustavo Silveira Graudenz é alergologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.
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