Ciro empurra para a direita partido que foi de Brizola

O boquirroto senhor do Ceará, livre de qualquer pudor, une-se a expoentes bolsonaristas

Paulo Henrique Arantes

Leonel Brizola perdeu o PTB para Ivete Vargas nos estertores da ditadura civil-militar que aterrorizou o Brasil por 21 anos. História conhecida. Fundou o PDT e continuou a exercer o trabalhismo getulista que o consagrou como uma das maiores lideranças da esquerda brasileira, para muitos a maior.

O PDT veio, desde sua criação, em 1980, e mesmo após a morte de Brizola, em 2004, honrando em regra suas origens, coerente com seu nacionalismo, contra a sanha privatista, em prol dos direitos dos trabalhadores. Com Carlos Lupi à testa desde 2004, o partido foi voz forte contra a reforma trabalhista de Michel Temer, em 2017, tendo ajuizado Ação Direita de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal questionando o trabalho intermitente – a ação ainda dormita na corte.

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A despeito do empenho da legenda contra a reforma temerista, a entrada de Ciro Gomes, em 2015, inaugurara a face dúbia do PDT. Ingresso nos quadros do partido para lhe dar força eleitoral, o político ultrapersonalista é mesmo isto: alguém que coloca seus projetos pessoais acima de tudo e de todos.

A cobrança ilegal de contribuições sindicais, esquema entranhado na burocracia do INSS e que nasceu durante o horror bolsonarista, derrubou Carlos Lupi, por inação, do Ministério da Previdência. Afirmando-se magoado quando deveria dizer-se envergonhado, o PDT deixou a base aliada do governo. O papo da busca por independência adormece a boiada.

A ambiguidade do PDT cirista já vinha sendo praticada há algum tempo. O deputado Marlon Santos (RS) votou, contra o governo, a favor do marco temporal das terras indígenas. O pacote de corte de gastos elaborado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contou com votos contrários de parlamentares pedetistas.

Quem acreditou, em algum momento, que Ciro Gomes estaria fora da corrida presidencial de 2026 enganou-se. Com a sigla virtualmente na oposição, o boquirroto senhor do Ceará, livre de qualquer pudor, une-se a expoentes bolsonaristas do seu Estado. Acaricia políticos como o deputado federal André Fernandes (PL-CE), direitista estridente na Câmara, a quem se referiu como um possuidor de “todos os dotes e qualificações” e “um homem decente, de fé”. Ciro leva o PDT a apoiar Fernandes para o Senado em 2026.

Durante campanha para a Prefeitura de Fortaleza, em 2024, questionado sobre o elevado número de mulheres mortas por feminicídio no Ceará, André Fernandes mostrou toda a sua índole em uma palavra: “Dane-se”.

O pouco caso ou mesmo o repúdio à condição feminina parece ser um dos pontos que unem Ciro e Fernandes. Em abril de 2024, Ciro Gomes referiu-se à senadora Janaína Farias (PT-CE) como “cortesã” e “assessora para assuntos de cama”. Ele também afirmou que a parlamentar era “incompetente e despreparada” e que sua função era “organizar as farras do Camilo”, em referência ao ministro da Educação, Camilo Santana. Essas declarações levaram o Ministério Público do Ceará a denunciá-lo por violência política de gênero, com base no artigo 326-B do Código Eleitoral. A denúncia foi aceita pela Justiça Eleitoral, tornando Ciro réu no processo.

Durante a campanha presidencial de 2002, Ciro afirmou que sua então companheira, a atriz Patrícia Pillar, tinha “um dos papéis mais importantes, que é dormir comigo”. Em 2017, ao comentar a pré-candidatura de Marina Silva à Presidência, o machão mandou esta: “O momento é muito de testosterona”.

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