Local tem completa desordem, maioria dos trabalhadores estão sem cadastro há quase dez anos e não há controle por ali de quem realmente pode ou não trabalhar
Por Amarildo Castro – Uma desordem completa. Assim é considerado o estacionamento da Feira do Guará, onde com a volta das atividades após pico da pandemia coronavírus continua dando o que falar. O ápice do problema ocorreu no último dia 19, com o esfaqueamento do flanelinha Carlos Henrique Pereira dos Santos, de 39 anos, tema noticiado na cidade pelo Blog da Zuleika. O trabalhador continuava hospitalizado em estado grave até o fechamento desta reportagem.
Em 2019 o Jornal GuaráHOJECidades já trazia o problema em sua chamada principal de capa, mas desde então, o que se observa é que pouca coisa foi feita para frear as irregularidades no local, que vão desde a falta de cadastramento dos trabalhadores, até suposto local de ponto de tráfico de drogas por alguns que por ali aparecem esporadicamente.
O local é ponto ainda de muita sujeira e desordem. Essa situação, se junta às reclamações dos usuários sobre trabalhadores irregulares, alguns supostamente presidiários cumprindo pena no semi-aberto e sem nenhum controle, denunciou um trabalhador local recentemente.
Mesmo sabendo das irregularidades existentes, alguns trabalhadores que utilizam o espaço para ganhar o pão de cada dia culpam o poder público por deixar o estacionamento chegar ao ponto que chegou, completamente desorganizado.
Na reportagem do Guará Hoje, de julho de 2019, João José Lacerda, 63, que trabalha há 24 anos no local, afirmou à época que a situação nos últimos anos só tem piorado. “A própria administração da cidade prometeu há algum tempo fazer o recadastramento dos flanelinhas e fornecer os coletes, como acontecia antes, mas isso não foi feito e chegamos a ficar na mão de candidatos no ano passado que nos prometeram e não cumpriram”, reclamou. Afirmou ainda que por parte da administração nos últimos dois anos ninguém mais teria se pronunciado sobre o assunto.
Apontou também a falta de segurança no local devido à presença de pessoas estranhas. Disse que até ex-detentos já teriam usado o espaço para trabalhar como flanelinha. “Tudo isso nos deixa inseguros, pois ficamos intranquilos para trabalhar por aqui”, denunciou.
Francisco Augusto dos Santos fez coro na mesma reportagem às denúncias do colega. “Estou aqui há cerca de 20 anos trabalhando no local onde tinha colete e identificação e agora nós temos nada que nos identifique como flanelinha. Sequer podemos utilizar as instalações para beber água da administração quando éramos cadastrado, mas agora não é possível porque não há regra pra nada”, diz.
Há pouco mais de um mês, a reportagem do Blog do Amarildo constatou os mesmos problemas citados pelos trabalhadores, com diversos flanelinhas sem colete, e boa parte só aparece ali aos sábados ou domingos e totalmente descaracterizados.
Outro flanelinha antigo, Ademilson Macedo, que está no local há 15 anos, reclamou também na mesma reportagem publicada no jornal que a falta de cadastro traz uma série de problemas para quem tenta atuar regularmente no estacionamento. “Por aqui têm aparecido pessoas estranhas, trabalhando de forma agressiva e que faz com que, nós que exercemos o nosso trabalho regularmente, fiquemos inseguros de trabalhar em meio a esse clima”, diz Macedo.
Posição oficial da ADM (em 2019)
À época, a Administração Regional do Guará, por meio de nota informou “que já estaria tomando as devidas providências quanto às demandas apresentadas. O primeiro passo dado no dia 4 de julho de 2019, juntamente com a Secretaria das Cidades, na entrega de 40 autorizações para a permanência de ambulantes na região. Com esse termo, o órgão ordena a atividade que deverá ser exercida a 300 metros de distância da Feira do Guará, próxima ao Ginásio de Esportes com o intuito de regularizar a atuação dos comerciantes e proporcionar conforto e segurança aos frequentadores”, dizia a nota à época.
E prosseguiu a nota: “A administração regional esclarece também que, em parceria com a 4ª Delegacia de Polícia, está realizando o cadastramento dos flanelinhas e que, ao final desse processo, serão entregues crachás e coletes. Com essa atitude, organizar as atividades que são realizadas no estacionamento da feira”.
E informa ainda que “a Secretaria Executiva das Cidades destaca que foi publicado em abril de 2019, o Decreto n° 39.769, que regulamenta os serviços de ambulantes em áreas públicas do Distrito Federal. Assim, eles precisam buscar a administração regional para se legalizar. Quanto aos crachás e coletes, o GDF está em processo de confecção”, conclui a nota.
Porém, passados mais de um ano, maioria dos vigias do local não souberam informar se receberam algum colete novo ou se estão de fato autorizados a trabalhar no local. A fiscalização para isso no lugar é praticamente ausente.
A reportagem vai ouvir novamente a Administração do Guará para ver o que o órgão diz de novo, especialmente após o esfaqueamento do dia 19.
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