Maralto Edições reedita Paisagem de porcelana, de Claudia Nina

A nova edição do romance apresenta textos inéditos e envolve o leitor em temas universais,
como perda, exílio e abuso psicológico

A Maralto Edições lança neste mês de dezembro, uma nova edição do romance Paisagem de porcelana, da jornalista e doutora em Letras pela Universidade de Utrecht, na Holanda, Claudia Nina. Originalmente publicado em 2014, o livro reafirma o domínio da prosa poética da autora, e sua capacidade de explorar os intricados labirintos emocionais da alma humana. Narrada em primeira pessoa, a obra desvenda em flashbacks os momentos marcantes de Helena, uma jovem brasileira que se muda para a Holanda em busca de uma nova vida. Ao longo da narrativa, o exílio, a solidão e a violência pontuam a difícil adaptação da protagonista em seu novo país.

“Conversando com a Maralto, percebemos que o romance merecia novas incorporações além do texto original, até para marcar os meus 20 anos de carreira literária e os 10 anos de publicação de Paisagem de porcelana”, explica Claudia Nina. “Propus um prefácio dedicado a uma das personagens do livro, Yasuko, além de um texto final em que eu conto como seria a minha Holanda romântica se eu estivesse dentro de um quadro de Anton Pick. A Maralto foi bastante receptiva a todas as ideias e montou um projeto gráfico lindo.”

Com texto de orelha assinado pelo autor João Anzanello Carrascoza, o livro acompanha o relacionamento de Helena com Ernest, um homem de origem paquistanesa, misterioso e perturbador. Ao longo da trama, ele se torna uma presença opressora e perigosa, personificando a violência latente que ameaça a protagonista com seus “olhos de fera”. Em sua luta contra essa ameaça, ela se vê cada vez mais mergulhada em uma espiral de medo e degradação. Claudia Nina captura com delicadeza essa dinâmica, mostrando o distanciamento progressivo de Helena de si mesma, enquanto sua mente e seu corpo se fragmentam.

Paralelamente a jovem brasileira encontra refúgio emocional em Peter, um professor afetuoso, e em Yasuko, uma vizinha japonesa com quem desenvolve uma profunda amizade. Essa relação é construída como um contraponto à violência de Ernest, destacando o silêncio e a cumplicidade entre as duas mulheres. Yasuko, com sua presença acolhedora e silenciosa, oferece conforto a Helena, mas também traz à tona sentimentos de perda e distanciamento.

Paisagem de porcelana leva o leitor a uma jornada interior, marcada pela introspecção e pela imobilidade. A autora constrói uma narrativa inquietante, em que os acontecimentos fluem como fragmentos da memória, frequentemente distorcidos pela dor e pela incerteza. Nessa viagem psicológica pela mente de Helena, as fronteiras entre realidade e loucura tornam-se indistintas.

Um duplo conhecimento antagônico: eu sabia que era eu, mas não me via. Aquela era outra pessoa que deveria ser eu até por falta de opção. Depois de haver quase perdido o dedo para o frio (depois é que percebi que poderia ter gangrenado e falido aquela pequena peça de corpo), eu sofria uma perda mais assombrosa – outra forma de morte: o desaparecimento de uma imagem. Onde estava o rosto que eu tinha deixado exatamente em cima do pescoço, embora só conseguisse, com grande dificuldade, subindo em um banquinho, ver uma parte dele no espelho do banheiro?

“Quando o romance foi lançado, muita gente falou da questão do exílio, mas o abuso psicológico sofrido por Helena passou em branco. Por que isso? Será que é ainda desconfortável tocarmos nesse tema? Será que o sofrimento da Helena deve ser desacreditado por ela ser fraca, insegura, perdida? Temos que falar sobre isso com urgência”, finaliza a autora.

Paisagem de porcelana já está disponível nas plataformas digitais de vendas. A obra fará parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa direcionada para escolas de todo o país.

Sobre a autora

Claudia Nina nasceu no Rio de Janeiro. É gradua da em Jornalismo, mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e doutora em Letras pela Universidade de Utrecht, na Holanda. Sua tese sobre Clarice Lispector foi publicada no Brasil com o título A palavra usurpada (2003). É autora de mais de 20 livros de diversos gêneros – romance, ensaio, conto, infantojuvenil –dos quais se destacam Esquecer-te de mim (2011), Amor de longe (2017), Ana-Centopeia (2021), A coruja e o mondrongo (2021), Palavras ao mar: histórias da língua portuguesa para crianças (2021) e Jasmins (2022), que foi publicado pela Maralto. Em 2015 foi finalista do Prêmio Rio de Literatura pela primeira edição do livro Paisagem de porcelana.

Serviços:

Paisagem de porcelana
Autora: Claudia Nina
Editora: Maralto Edições
Preço: R$ 59,90
Páginas: 140

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