Preservação do recurso natural

Celebrado neste sábado, 15 de abril, o Dia Nacional da Conservação do Solo, propõe uma reflexão sobre a preservação dos solos e a necessidade da utilização adequada desse importante recurso natural.

O que é, o que é: passamos os dias sobre, possibilita o plantio de alimentos, sustenta nossas cidades, mas, muitas vezes, não é visto e nem recebe o devido cuidado? Formado a partir do lento processo de decomposição de rochas e sedimentos orgânicos por ações biológicas e climáticas, o solo é sinônimo de vida. 

Ele está na base do agronegócio, pode atuar no controle das mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono, é fundamental para a saúde das bacias hidrográficas. Para conscientizar sobre a necessidade do uso e manejo responsáveis do recurso natural, em 15 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Conservação do Solo. 

A data foi instituída pela Lei nº 7.876/1989, por iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A escolha do dia é uma homenagem a Hugh Hammond Bennett, considerado o “pai” da conservação dos solos nos Estados Unidos. 

Conforme a Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS), são necessários por volta de dois mil anos para que a natureza consiga criar apenas dez centímetros de solo saudável. E, uma vez que ocorre o desgaste, são necessárias técnicas de recuperação que nem sempre são aplicadas.

Os solos estão direta e indiretamente envolvidos na prestação da maioria dos serviços ecossistêmicos vitais para os seres humanos. Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), 38% da superfície terrestre do planeta é usada para cultivar alimentos e outros produtos para humanos ou gado — são cinco bilhões de hectares no total. 

A terra sob nossos pés é a base para a produção de mais de 95% da comida produzida globalmente. Grãos, oleaginosas, açúcar, vegetais, nozes e frutas dependem diretamente dos solos. A nutrição dos animais que produzem carnes, ovos e lácteos é sustentada por alimentos que também crescem no chão.

Desafios

Ainda que seja fundamental para a vida, o solo está em perigo. De acordo com a FAO, um terço do solo mundial está degradado em algum grau devido à erosão, perda de carbono orgânico e biodiversidade, salinização, desequilíbrio de nutrientes e acidificação, entre outras causas. 

Como outro agravante, as florestas são uma das responsáveis naturais por proteger o solo, mas o desmatamento tem batido recordes ano após ano. No cerrado brasileiro, por exemplo, a destruição registrada nos três primeiros meses de 2023 é a maior desde 2019, quando começaram os registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Este desequilíbrio aumenta a insegurança alimentar, poluição e mudanças climáticas extremas. A SBCS estima que danos relacionados à erosão do solo custam até U$490 bilhões por ano, visto que podem causar perda de até 50% no rendimento das colheitas. 

Além disso, solos erodidos não retêm água, potencializando o risco de enchentes e deslizamentos de terra. Deve-se ressaltar que conservação de solo e água são indissociáveis. A degradação resulta no assoreamento dos corpos hídricos e na redução da disponibilidade e qualidade desse líquido essencial.

Pensando em território urbano, também é preciso atenção. O doutor em Ciências Ambientais e analista em obras e urbanismo da Prefeitura de Goiânia, Gabriel Tenaglia, explica que a ocupação inadequada do solo pode resultar em poluição, contaminação, erosão, deslizamento de terra e, consequentemente, assoreamento dos mananciais. Ele destaca, ainda, o perigo no lançamento de efluentes e descarte inadequado de lixo e/ou produtos tóxicos diretamente no chão. 

Segundo Tenaglia, ao se observar o uso e ocupação dos solos urbanos, é necessário ter em vista os tipos de terreno e suas respectivas aptidões. Isto é, considerar condicionantes ambientais. “Acredita-se que a engenharia solucionará qualquer intercorrência na ocupação desse recurso. Ledo engano. Talvez esse seja o pior fator para a conservação do solo e razão para se avolumarem casos de áreas insalubres e de risco Brasil afora”, completa. Como exemplo, as cada vez mais frequentes ocorrências de enchentes e deslizamentos. 

Soluções

Não restam dúvidas quanto a importância da conservação do solo. Principalmente em estados como Goiás, que tem na agropecuária um dos principais motores de sua economia. Mas é possível equilibrar o crescimento com a sustentabilidade? 

“Se, por um lado, ainda persistem muitos desafios a serem superados, por outro, existe espaço para melhoria e fomento a uma agropecuária mais sustentável”, informa o MAPA em seu Programa Nacional de Manejo Sustentável do Solo e da Água em Microbacias Hidrográficas, o Águas do Agro

O diretor técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Goiás (Senar Goiás), Leonnardo Furquim, conta que a terra goiana é pouco fértil, ácida e com presença de partículas de alumínio. Por isso, não é naturalmente adequada para o plantio. Mas a evolução tecnológica propiciou a descoberta de que uma técnica chamada calagem poderia corrigir a acidez, proporcionando maior crescimento das raízes e incrementos de produtividade. 

A agropecuária goiana tem, então, a adaptabilidade em sua essência. E isso mostra que ela é capaz de buscar sistemas produtivos de base sustentável e promover ações conservacionistas voltadas para o manejo racional de recursos naturais. 

“O produtor rural tem cada vez mais consciência de que água e solo saudáveis são os elementos mais importantes em sua fazenda”, declara Furquim. O representante do Senar afirma que a sustentabilidade precisa ocorrer em três frentes: ambiental, social e econômica. Ou seja, é preciso preservar, gerar empregos e dar lucro. 

Para executar essa tarefa, a recomendação de Furquim é a mesma da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): a intensificação do uso do solo. Trata-se de uma forma conservacionista de manejo do território agrícola a partir da integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). 

A ILPF agrega, na mesma propriedade, diferentes sistemas produtivos, como os de grãos, fibras, carne, leite e agroenergia. Dessa forma, melhora a fertilidade do solo, reduz o uso de agroquímicos e diversifica atividades econômicas do local com a aplicação de técnicas e sistemas de plantio adequados.

“Ou seja, intensifiquei minha produção com mais matéria orgânica, mais carbono sequestrado da atmosfera para as plantas. São mais fontes de renda e mais emprego, mas sem precisar de aumento de área”, finaliza o diretor do Senar.

Em Goiás, há casos que são considerados pela Embrapa como histórias de sucesso e mostram que é possível: o da Fazenda Santa Brígida, em Ipameri, e o da Fazenda Boa Vereda, em Cachoeira Dourada. 

A dona da propriedade em Ipameri, Marize Porto, recorda os motivos que a levaram a adotar a ILPF. “Assumi a fazenda em 2006, o solo estava degradado e eu não tinha conhecimento nem equipe para lidar com a situação”. Por indicação, ela procurou a ajuda da Embrapa, que apresentou a alternativa e auxiliou diretamente na viabilização. 

Não foi fácil, recorda a fazendeira, mas era a solução perfeita para os problemas e deu tão certo que hoje, 17 anos depois, a propriedade é referência nacional. 

“Podemos dizer que produzimos sustentabilidade, em várias safras durante o ano: a intensificação sustentável! ”, celebra Porto. Anualmente, a Santa Brígida produz grãos, animais e florestas, que seguem uma lógica de sucessão ou rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades. Além disso, é possível comercializar os créditos de carbono excedentes, o que posiciona o Brasil no mercado internacional como um produtor sustentável. 

Para estimular a popularização da agropecuária sustentável em Goiás, Marize Porto aposta no compartilhamento dos resultados. A Fazenda Santa Brígida realiza regularmente o “Dia de Campo sobre ILPF”, que convida pessoas do país inteiro para conhecer de perto como funciona o trabalho. O evento, que já teve dezenove edições, transforma Goiás na vitrine de um futuro possível.

E o solo urbano?

De acordo com o analista em obras e urbanismo da Prefeitura de Goiânia, Gabriel Tenaglia, é fundamental obedecer aos zoneamentos econômico e ecológico, que justamente, estabelecem as fragilidades ambientais do solo, para permitir ou não sua ocupação. 

“Ademais, deve-se fortalecer o processo de licenciamento ambiental para atividades impactantes e assim, o controle de descarte de produtos perigosos em local adequado. Além de promovermos uma conscientização das práticas sustentáveis, que buscam minimizar os impactos através de ações que se baseiam na conservação desse importante recurso natural”, completa. 

No Parlamento goiano 

Presidenta da Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Alego, a deputada Rosângela Rezende (Agir) lembra que a proteção do solo passa diretamente pela conservação da vegetação e recuperação das áreas degradadas. 

“Não podemos falar em conservação do solo sem falar, também, em abastecimento de água, pois a terra funciona como um filtro natural para purificar a água. A conservação do solo reduz a concentração de poluentes e sedimentos. Por sua vez, a água é a condição básica para dissolver os nutrientes para as plantas”, explica a parlamentar. 

Segundo ela, assim, o papel do Legislativo é fiscalizar a ação das agências de proteção da água e da vegetação. Além de promover políticas públicas, tanto para a educação da população e dos setores produtivos em relação a esses temas, quanto para a recuperação e retardamento da degradação das áreas que deveriam ter sido preservadas.

Para exemplificar possíveis formas de atuação da Alego, Rosângela cita a parceria da Casa com o projeto “Virada Ambiental”. Trata-se de uma ação para fomentar o plantio de espécies vegetais nativas, visando o resgate da biodiversidade e a recuperação dos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas. “Além disso, tenho me movimentado para promover e participar de debates com os setores produtivos, especialmente o agro”, completa.

O tema também é abordado em projetos de lei apresentados por deputados. Um exemplo é o de nº 184/23, assinado por Virmondes Cruvinel (UB), que propõe instituir uma política estadual de fomento à nova agricultura no estado de Goiás.

O objetivo da matéria é promover a transição para sistemas de produção agrícola mais sustentáveis e eficientes. A ideia é que isso seja feito pela valorização de formas alternativas, como a agroecologia, a produção orgânica, a agricultura familiar, a agrofloresta, a utilização de energias renováveis e outras práticas que respeitem o meio ambiente e as comunidades locais. 

Ao justificar a propositura, Cruvinel alega que a chamada nova agricultura surge como uma alternativa sustentável e eficiente para a produção agrícola, já que as práticas convencionais de produção agrícola geram impactos ambientais negativos. O texto foi aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Redação e deve passar por análise na Comissão de Meio Ambiente antes de ser votado, em dois turnos, pelo Plenário. 

Importância da pesquisa

“O solo é o sustentáculo da vida de todos os organismos”, afirma o doutor em Ciências Ambientais Gabriel Tenaglia. Por isso, é imprescindível a aprimoração contínua dos meios de sua preservação. 

Em Goiás, por exemplo, foi criada recentemente a Comissão de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas do Estado de Goiás. O objetivo é avançar na proposta de atualização dos parâmetros de adubação, fertilização e correção dos solos goianos. 

Entre os dias 24 e 26 de maio de 2023, o Núcleo Regional Centro-Oeste da SBCS irá promover, em Goiânia, um simpósio cujo tema central será “a ciência do solo no contexto da agricultura regenerativa”. 

Em linhas gerais, para não perder o chão debaixo de nossos pés, nas palavras do pai da conservação dos solos, Hugh Hammond Bennett, “Cuide da terra e a terra cuidará de você”. 

Agência Assembleia de Notícias

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